Opinião

“Liberando a esperança”, por Suely Ouro

Eu aprecio muito histórias, sejam elas crônicas da vida real ou mesmo narrativas da literatura universal que ficaram gravadas no inconsciente coletivo da humanidade. As histórias têm o poder fantástico de cativar a mente com ensinamentos, lições, reflexões. Elas se aproximam de nós como um novo mundo repleto de personagens e acontecimentos inusitados, com os quais muitas vezes nos identificamos, tocando-nos de maneira profunda e marcando indelevelmente a vida. Nesse aspecto, lembro-me de uma narrativa da mitologia grega muito conhecida pela maioria de nós: a história de Pandora, cujo nome significa “a que detém todos os dons”.

Quem já não ouviu falar na expressão “caixa de Pandora”? Geralmente a associamos com coisas ruins. De fato, a mitologia conta em uma de suas versões que, quando a linda Pandora abriu a fatídica caixa dada pelos deuses – uma armadilha, na verdade -, todos os males saíram de dentro do objeto e se espalharam pelo mundo. Com a abertura da caixa, a Terra  ficou assombrada por inúmeros horrores. Dessa forma, o pensamento mítico tentou explicar, magicamente, o aparecimento de doenças, desastres, guerras, medo, fome, indiferença, corrupção, morte: tudo sendo um castigo dos deuses aos homens. No entanto, o mais importante dessa narrativa não são as coisas ruins da caixa, mas um elemento que ficou preso quando Pandora, desesperada, tentou fechá-la: a esperança, algo de grande valor simbólico e existencial.

Nunca precisamos tanto de esperança quanto nos dias atuais, repletos de males de todos os tipos. Parece-nos que a “caixa de Pandora”, aberta pela mão do próprio ser humano, escancarou-se de vez e libertou todos os acontecimentos tristes da existência. Olhamos para a natureza e vemos devastação, para a sociedade e contemplamos confusão e conflitos de todos os tipos. As pessoas e as instituições nos decepcionam, além do fato de que olhamos para dentro de nós mesmos para nos deparar com fragilidades. Diante de tal cenário, individual e coletivo, perguntamos: “Não restou nada de bom? Ainda há esperança?”. Existe, sim. Ela continua presa dentro de nós, como uma centelha esperando ser liberada.

Se prestarmos atenção ao redor, veremos vários sinais da esperança nos acenando. Simbolicamente, a cor verde, tão abundante na natureza, é uma metáfora que anuncia esperança. Por qual razão o Criador preencheu de verde a natureza de forma tão copiosa? Não seria para, além de outras intenções, nos lembrar da esperança, cercando-nos dela? A esperança também tem como símbolo uma âncora, para nos mostrar que precisamos fixar nossos melhores sonhos numa plataforma segura e confiável, que jamais seja abalada. Não podemos ficar à deriva, mas firmes como um navio ancorado ao porto seguro. Quero lembrar ainda que a esperança constitui um poder capaz de mudar a situação existente, por pior que seja. Esse poder nos move a realizar feitos comparáveis aos “doze trabalhos de Hércules”, de tão difíceis que são muitas vezes.

Por fim, o espírito esperançoso transcende a realidade dos sentidos e nos proporciona salvação. Isso mesmo! Como uma virtude teologal, ao lado da fé e do amor, a esperança nos transporta para a dimensão divina, colocando diante de nossos olhos um horizonte eterno. Segundo o livro bíblico de Romanos, capítulo 8, versículos 24 e 25, “em esperança fomos salvos. Ora a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos”. Dessa forma, precisamos olhar, esperançosamente, tanto para o passado quanto para o futuro. Com Deus, ganhamos força para enfrentar o presente, sendo protegidos dos sentimentos de desespero.

Alguém afirmou: “A esperança é uma luz dentro do homem que, no meio das trevas, antecipa a luz que virá – anuncia a certeza da aurora na noite dos tempos!” Pandora deixou-a retida na caixa. Talvez estejamos fazendo a mesma coisa. Por esse motivo, há tantas pessoas desesperadas no mundo. O que necessitamos fazer é devolver os males para a sua prisão e liberar a esperança.

A esperança não é a última que morre. Ela precisa viver em nossos anseios e sonhos, concretizada em nossas ações de amor. Só assim os acontecimentos da vida se tornarão verdes e belos, e nossa âncora existencial estará bem firmada. A esperança vive! Somos movidos por ela. Soltemos a esperança pelo mundo e uma nova era poderá surgir!

*Suely Ouro é pré-candidata a deputada federal, presidente do PSDB Mulher em Sergipe, empresária da moda, escritora, filha e mãe.