Em entrevista concedida ao Jornal do Comércio nesta segunda-feira (9), a pesquisadora e doutora em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), Patrícia Rangel, analisou a baixa representação feminina no Parlamento brasileiro. Para Patrícia, essa baixa representatividade só pode mudar com uma alteração interna nos partidos, que “são resistentes historicamente à candidatura de mulheres”.
Patrícia foi uma das palestrantes do seminário promovido pelo PSDB-Mulher “Os Desafios das Eleições de 2018 e a Importância do Senso Crítico e Propositivo para a Capacitação Política”, ocorrido nos dias 15 e 16 de março, em Porto Alegre. Ela também foi convidada pela Fundação Konrad Adenauer, instituição parceira do secretariado, para participar do encontro de tucanas.
Participação feminina
A pesquisadora considerou ainda que “ter mais recursos para mulheres aumenta a chance de eleição delas”. Ela admitiu, contudo, que o problema enfrentado pelas mulheres no Brasil se repete em outras partes do mundo.
“Quando a gente olha para os Parlamentos do mundo todo, a média mundial de presença das mulheres é de 23%. Isso parece muito pouco, porém, no Brasil, é ainda pior. A média de representação das mulheres parlamentares brasileiras é de 9,9%. Geralmente, todas as matérias que falam sobre mulheres na política passam por esse percentual, porque ele é dramático”, lamentou a especialista.
Patrícia Rangel alertou para o fato de que o Brasil é um dos países com menor representação feminina na América Latina. “A gente só perde para Belize e o Haiti. E na América do Sul nós estamos em último. Por isso, o Brasil é um caso emblemático de sub-representação das mulheres”, completou.
Na opinião de Patrícia, o sistema eleitoral brasileiro não ajuda a alterar esse quadro. “O nosso sistema de representação proporcional, combinado com o tipo de lista que adotamos, que é a lista aberta, tem como efeito um caráter altamente personalista das eleições. Não é à toa que o Brasil está entre os países que têm os gastos com campanhas eleitorais mais altos. Se você compara o Brasil com outros países latino-americanos, para candidaturas para a Câmara dos Deputados, o que um candidato brasileiro gasta é três vezes mais do que um candidato latino-americano”, afirmou.
Movimento feminista
A doutora destacou que o Brasil é um dos países que têm um dos movimentos feministas mais vibrantes. Mas, por enquanto, ainda não teve um impacto sobre a presença de mulheres na política eleitoral. Para mudar esse quadro, ela defende uma mudança nos partidos. “As siglas têm que respeitar a cota, investir em candidaturas de mulheres. Isso significa recursos, tempo, colocar nas posições e lideranças partidárias. Isso é o básico”, pontuou.