Às vezes, tenho a sensação que não estamos em pleno século XXI. Digo isso por causa das cenas que assistimos e dos relatos que acompanhamos de mulheres acusadas de serem elas as responsáveis por situações de assédio, abuso e violência sexual. Um verdadeiro absurdo porque é comum que o verdadeiro responsável não seja penalizado.
No ano de 2014, levei um susto ao ver divulgada uma pesquisa em que 60% dos entrevistados atribuíram à mulher a culpa por ser estuprada. Estas pessoas afirmaram que a forma como a mulher se veste ou se comporta provoca o estupro.
Nesta mesma pesquisa, os entrevistados disseram que as mulheres de minissaias e decotes estimulam os estupros! Fiquei indignada.
Durante anos, atendi meninas e mulheres vítimas de violência sexual. Elas chegavam ao meu consultório feridas na alma, uma dor indescritível. Sentiam-se sujas, amedrontadas e ultrajadas. Ouvi relatos terríveis sobre o horror que causa o estupro na vida de uma mulher.
Minha indignação tornou- se maior ainda ao assistir uma reportagem que foi ao ar no Fantástico em que uma jornalista mostrou que foi ameaçada covardemente, pela internet, por ter postado em protesto ao resultado absurdo desta pesquisa uma foto em que aparecia com os seios à mostra e uma frase escrita no corpo “não mereço ser estuprada”. Ela disse que ao se despir, ela quis estampar seu grito de horror.
Aqui estamos nós, em pleno ano eleitoral, é preciso levar o tema da violência, do assédio, do abuso e do desrespeito à mulher para as ruas e os palanques. Não podemos nos calar. São muitas meninas e mulheres que sofrem em silêncio. É nosso dever dar voz para elas!
*Francineti Carvalho é presidente do PSDB-Mulher do Pará.