Apesar de ser maioria na população do país, a mulher brasileira ainda esbarra em dificuldades, inclusive quando demonstra mérito e qualidades profissionais: entre os que cursam ensino superior e representam 49% das bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a principal agência de fomento à pesquisa no Brasil. Mas, ao longo da carreira, vão sendo “expulsas” do universo acadêmico, no que é conhecido como efeito tesoura. O próprio CNPq nunca teve uma presidente em 66 anos de existência.
A análise foi publicada no jornal O Globo. De acordo com a reportagem, nas bolsas de iniciação científica, 59% são mulheres; já nas de produtividade, as mais prestigiadas, com financiamento maior, a parcela feminina cai para 35,5%. No grupo, ainda há as bolsas 1A, as mais altas, que só contemplam 24,6% de mulheres.
O estudo foi realizado a partir da campanha #esseemeuprofessor, feita pelo Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2016, dentro do programa Meninas na Ciência.
Na Academia Brasileira de Ciências, que tem um processo de indicação e votação interno, só 14% são do sexo feminino. Nunca houve mulher presidente nos seus 102 anos de existência. Houve uma vice-presidente, nos anos 1960, Johanna Döbereiner, que desenvolveu um método de adubação para soja que aumentou a competitividade do grão.
Nas universidades federais brasileiras, há 28,3% de reitoras. São 19 entre os 63 reitores. Na Academia Brasileira de Medicina, apesar de as mulheres serem maioria entre os formandos, em torno de 55%, há apenas cinco delas entre os 115 membros, o que representa 4,3%.
Exclusão
Outro motivo para a expulsão das mulheres é a dificuldade de conciliar o cuidado dos filhos e da casa com o trabalho acadêmico. Pelos números do IBGE, a mulher destina 20 horas ao serviço doméstico por semana, o dobro da dedicação dos homens.
A professora de Biociências da UFRGS Fernanda Staniscuask resolveu fazer uma pesquisa para medir o quanto a maternidade atrasa ou expulsa a mulher da academia. Já foram entrevistadas mil mulheres, e mais da metade delas são as únicas cuidadoras dos filhos. O objetivo é reunir esses dados e conseguir bolsas para pesquisadoras que acabaram de ter filhos.
A maternidade é citada por Fernanda como um dos motivos para o atraso de dez anos na carreira feminina na ciência em relação aos homens:
Dados
O levantamento também mostrou que uma parcela das mulheres opta por não ter filhos ou ter apenas um para conseguir seguir na carreira: cerca de 25% delas não têm filhos.
A vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Vanderlan da Silva Balzani, recentemente publicou o artigo intitulado “Mulheres na ciência: por que ainda somos tão poucas?” Ela, que também é professora titular do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), afirma que cada dia há mais mulheres trabalhando em várias áreas, mas, quando chega no topo, como no Prêmio Nobel, o número de homens é muito maior.
*Com informações do jornal O Globo.