Opinião

“A História Ensina para que não se repita como farsa”, por  Yeda Crusius

Chegou o aguardado período anual das premiações musicais e cinematográficas. Poderosos veículos de comunicação e de formação de opiniões, esses setores geram temas da hora, como foi o caso das atrizes e atores vestidos de preto para denunciar a cultura do assédio em suas profissões. O debate corre solto depois dessa manifestação midiática.

A participação da chamada “classe artística” em movimentos políticos, aliás, merece destaque, tanto no que traz de avanços, quanto no levar a nos lembrar de períodos negros da História, em que a submissão dessa classe e de outras, tão fundamentais nas sociedades, aos poderosos de plantão fez parte da construção de totalitarismos que não se deseja repetir, como os do Século XX e suas Grandes Guerras.

Vamos à História, que tem sido apresentada nos últimos anos por importantes filmes que analisam fatos e personalidades importantes, não ficcionais. Premiado no Globo de Ouro de 2018, e a caminho do Oscar, o filme O Destino de uma Nação resgata Winston Churchill e a atuação da Inglaterra na Segunda Guerra Mundial, naquele momento de 1940 centrado em Dunkirk, para plateias do mundo inteiro.

As decisões daquele período moldaram o mundo como ele é hoje. Não dá para voltar atrás e evitar aquela terrívelII Grande Guerra e suas dezenas de milhões de mortos. Mas é bom que se aprenda com ela, para que não se repita. Em todo o mundo, e não é diferente na nossa América Latina, os desafios para conter o ímpeto dos dirigentes que amam guerras requer permanente vigilância.

Focado em um período histórico difícil – Churchill foi nomeado Primeiro Ministro, em 1940, quando a Inglaterra passava por uma situação de quase que total isolamento – o filme mostra a realidade de um país à mercê de bombardeios diários; de um bloqueio marítimo que pretendia interromper o abastecimento de gêneros de primeira necessidade; da perda de incontáveis vidas.

A guerra já existia no seu território, portanto. Terrível decisão: dar fim a ela, entregando-se a Hitler, ou enfrentar seus horrores participando da longa história de horrores da II Grande Guerra dos totalitarismos de Hitler, Stalin e Mussolini? Com quem buscar acordos?

As forças de Hitler, em 22 meses de conflito generalizado na Europa, haviam submetido 8 países, aniquilando o poderoso exército francês em um mês. O controle territorial nazista começava nos mares da Noruega, incluindo boa parte do Mediterrâneo. Ficaram neutros, Suécia, Suíça, países ibéricos e aliados, como a URSS – estanão tardaria a mudar de lado, ao ser invadida em julho do mesmo ano.

E a Inglaterra continuou lutando.Winston Churchill exerceu papel fundamental durante o conflito. Tomou posição. Comprou a parada que levou milhões à morte por uma causa, buscando o fim da guerra. Seu espírito inquebrantável ajudou os ingleses a viver em meio ao pesadelo do bombardeio indiscriminado contra civis. A derrota nunca foi opção, submeter-se não era a solução.

E talvez possa aquele período ensinar uma ou duas boas lições a alguns países latino-americanos, vergados pelo peso de anos de exploração e arbítrio e que têm buscado construir sociedades democráticas, apesar de estarem enfrentando os desafios que a corrupção desenfreada e o aparelhamento das instituições democráticas e suas consequências têm trazido aos seus sofridos cidadãos. Mas a História ensina: perigo à vista.

A principal lição, sem dúvida, vem nos sendo dada pela atuação de alguns setores do Judiciário que, sem se render ao medo, à intimidação, buscam desmontar a organização criminosa que se apoderou do Estado brasileiro gerando uma sociedade aturdida pelo volume da roubalheira e pela desfaçatez de seus operadores, e suas consequências no cotidiano do emprego, da riqueza nacional, da distribuição de renda, da construção de um futuro pela educação do povo.

Lembremo-nos disso no próximo dia 24 quando, esperamos todos, o Brasil assistirá suas instituições trabalharem de maneira independente e altiva. Lembrando Churchill, uma nação que se submete, jamais conseguirá resgatar sua cidadania. Avante Brasil.

*Yeda Crusius é presidente nacional do PSDB-Mulher, deputada federal pelo PSDB do Rio Grande do Sul, ex-governadora do RS e ex-ministra do Planejamento.