Opinião

“Creche é questão de política pública”, por Solange Jurema

Promessa de campanha da ex-presidente petista Dilma Rousseff, a ampliação das creches para as crianças com menos de 3 anos ficou para trás. Apenas 25,6% das crianças frequentam creches públicas no país. Para dobrar esse percentual até 2024, vai ser necessário abrir mais 3,2 milhões de vagas. Números que assustam e preocupam.

Uma alternativa que pode atenuar o drama das famílias é investir nas chamadas “mães crecheiras”. Dar visibilidade a essas mulheres, que são a principal solução das famílias de baixa renda, seria uma maneira de proteger as crianças, tranquilizar pais e mães, além de incrementar a economia do país.

Porém, deve ser apenas como uma política de transição, não de substituição à construção de creches. As mães crecheiras, capacitadas e treinadas para o trato com crianças, não podem fazer o papel da federação, dos Estados e municípios. É atribuição dos gestores construir e manter as creches, assim como aperfeiçoar os profissionais que vão lidar com os bebês e as crianças.

Reportagem recente da revista Época mostra que não há números sobre a quantidade de mães crecheiras ou mães comunitárias em atividade no país. Mas um levantamento, divulgado pelo IBGE, no final de março, informa que mais de 500 mil crianças com menos de 4 anos passam o dia fora de casa – com um parente ou outro adulto. As crianças pequenas cuidadas por mães crecheiras estão nesse contingente.

As mães crecheiras podem ser uma alternativa neste momento econômico: é mais barato investir na capacitação dessas mulheres do que construir de forma rápida novas creches. No entanto, é necessário afastar de forma definitiva uma antiga crença de que creche faz parte de uma política de assistência social, e não de educação.

Isso é completamente equivocado! Investir em creches é aplicar em educação e na formação do cidadão de amanhã. Antes das aulas no ensino fundamental e médio, a criança passa pela creche, onde é estimulada a ter prazer de aprender e o respeito pela escola.

Esse novo modo de pensar depende de cada um de nós e não podemos mais fingir que o problema não existe ou que a responsabilidade não é de todos.

*Presidente nacional do PSDB Mulher e ex-ministra da Secretaria Especial de Políticas Públicas para Mulheres no governo Fernando Henrique Cardoso.