Opinião

“A culpa é da mulher?”, por Terezinha Nunes

Representando cerca de 52% do eleitorado brasileiro, as mulheres, por contingências diversas, entre elas o machismo, ocupam hoje menos de 15% dos cargos eletivos no país – em alguns estados chegam a menos de 10% e no Congresso Nacional vão, no máximo, a 13%.

Há que se considerar, porém, que a defesa da participação da mulher na política e o amparo da Justiça Eleitoral, que está punindo partidos que se recusam a dar espaço

às mulheres em seus horários gratuitos ou não têm destinado recursos do fundo partidário ao segmento feminino, têm contribuído para que o percentual acima venha num crescendo. Devagar, mas sempre subindo.

O que as mulheres não esperavam era que um dos principais líderes políticos do país, o ex-presidente Lula, chegasse ao ponto de, a nível nacional, ao vivo e a cores, culpar sua falecida companheira, Marisa Letícia, de desvios a ele imputados pelo Ministério Público Federal, na esteira da Operação Lava Jato.

Marisa nunca foi tida como participante ativa nas administrações públicas do marido. Fazia mais o papel de testemunha que entrava muda e saia calada das inúmeras  solenidades em que sempre se postou ao lado do Lula presidente.

Embora isso não quisesse dizer muita coisa, pois poderia ficar muda publicamente mas comandar por debaixo dos panos, na verdade nunca se teve notícia de  protagonismo da ex-primeira dama.

Ao contrário de outras no mesmo posto como Ruth Cardoso, que comandou a área social nos mandatos de Fernando Henrique, não se conhece programas ou projetos  protagonizados por ela. Parecia mais um enfeite, permanentemente postado ao lado esquerdo do marido nas cerimônias oficiais.

Isso marcou de tal forma a ex-primeira dama que no estado de Pernambuco, a terra de Lula e para onde ele viajava muito, até hoje se especula sobre as razões que teriam levado Marisa a quase nunca comparecer a atos com o marido em sua terra natal. Há variadas versões mas os dois jamais deixaram vir a público os motivos.

Nem mesmo na inauguração do Parque Dona Lindu, em homenagem à mãe do presidente, Marisa deu as caras.

Não se sabe o que teria levado, de repente, o nome de Marisa ao protagonismo da Lava Jato mas há pistas. Embora pelas estadas da família no Sítio de Atibaia e no tríplex, Marisa tenha acabado sendo citada como presente a locais que acabaram sendo motivo de abertura de inquérito contra Lula, nunca havia se levantado a possibilidade de que ela estivesse à frente de ilícitos.

O véu caiu, porém, e, certamente, não foi por acaso, quando o pecuarista José Carlos Bumlai, após a morte da ex-primeira dama, afirmou ao juiz Sérgio Moro que era Marisa que o tinha procurado para adquirir um terreno que seria destinado à nova sede do Instituto Lula.

Esta semana foi o próprio marido a colocar na ex-mulher a culpa pelo nebuloso caso do tríplex que teria sido reformado pela OAS à guisa de propinas no âmbito da Operação Lava Jato.

Como é sabido, depois da morte de Marisa advogados petistas solicitaram à justiça que seu nome fosse excluído da Lava Jato.

Foi a partir daí que se começou a urdir o plano de culpar a morta? É difícil de saber mas que há suspeitas, há.

Não se sabe se Marisa teve em algum momento pretensão de exercer mandato mas, certamente, teria enormes chances de chegar a isso se Lula a tivesse lançado politicamente, contribuindo para aumentar o espaço feminino na política.

Ao contrário disso, ela pode passar à história como culpada por algo quando não está mais aqui para se defender. Muita gente podia não gostar dela mas, certamente,  ninguém de bom senso desejaria a Marisa tamanho infortúnio.

 

*A deputada estadual Terezinha Nunes é presidente do PSDB Mulher de Pernambuco. Artigo publicado no Blog de Jamildo