Opinião

“Lista, só com alternância”, por Solange Jurema

Já reiteramos diversas vezes aqui neste espaço que não se pode pensar em qualquer reforma política sem que se mude radicalmente a presença da mulher na política nacional.

É inconcebível, é anacrônico imaginar que depois de tudo o que País passou e está passando com a Operação Lava Jato ainda se imagine efetivar uma reforma político-partidária sem se corrigir a injustiça da representação feminina nos parlamentos nacionais – das Câmaras de Vereadores ao Congresso Nacional.

As mulheres são maioria da população, do eleitorado e respondem sozinhas por 40% dos lares brasileiros e têm menos de 15% em média das cadeiras dos parlamentos do País.

Como, então, pensar em mudar a legislação eleitoral e partidária sem levar em consideração a premência de profundas mudanças no modo de se empoderar as mulheres na política brasileira?

A adoção de um sistema de lista fechada é polêmica e não há ainda consenso no PSDB – a Executiva do Secretariado Nacional Mulher-PSDB é contra – e nem mesmo na maioria dos partidos, mas parece contar com a simpatia de boa parte dos atores políticos relevantes do Brasil no parlamento.

Ela pode sim ser uma opção, mas desde que contemple a alternância entre as candidaturas partidárias de modo que de fato haja uma mudança na quantidade e na qualidade das candidatas. Não há outro caminho.

Simultaneamente é necessário que se adote mecanismos para aumentar a presença das mulheres nas direções partidárias. Não podemos mais continuar a ficar à mercê de algumas decisões autoritárias de cúpulas machistas que desrespeitam e tentam impor soluções que não nos interessam.

Do jeito que está não dá!!

Neste sentido, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem agido com presteza e determinação para garantir o espaço feminino na política, fiscalizando com rigor a ação machista das direções partidárias em todas as instâncias – da lista de “laranjas” nas chapas partidárias à correta aplicação da verba do fundo partidário para ações de mulheres.

Não há mais espaço para manobras que tentem reduzir nossa importância na vida política nacional.

Agora é a hora de mudar.

O País atravessa sua maior crise política de toda a sua história e por isso não podemos perder essa oportunidade ímpar para mudar a política do País, com mais poder de representação para as mulheres.

Sem isso, qualquer reforma política será pífia, anacrônica e descabida depois de tudo que o País conheceu com a Lava Jato.

 

*Solange Jurema é ex. Ministra do governo Fernando Henrique Cardoso e presidente do Secretariado Nacional da Mulher-PSDB