Recebi em um dos grupos de whatsapp dos quais participo um daqueles vídeos curtos que povoam as redes. Logo ele foi sendo enviado por participantes de outros grupos. São grupos bem diversos entre si, portanto devo ver – e vi. Uma professora falando a um grupo de jovens um tema para que refletissem, para depois discutirem, dizendo mais ou menos assim: “As sociedades só têm chance quando os homens de bem tem a mesma audácia dos corruptos. A institucionalização da debilidade do bem, contra a realidade do comodismo, da mediocridade, é fato. Eficiência é uma qualidade. As virtudes como essa são utilizadas pelas organizações para fazer o crime. Por exemplo, a cooptação de meninos desde os 7 ou 8 anos pelo PCC tem sido feita com a exigência de uma disciplina, uma eficiência, uma ordem, que não são exigidas, por exemplo, no serviço público ou na educação dos jovens de classe média, que seguem a lei do menor esforço. Os homens de bem estão sendo criados para serem débeis. (…)”
Sim, o vídeo é muito bom, toca na ferida da principal razão para o esfarelamento moral que nos envolve nessa gigantesca crise que devemos enfrentar: a cultura que debilita o bem ao negar como virtudes o mérito, o esforço, a disciplina, a avaliação permanente, o respeito às leis – claro, quando presentes “no outro” que não se submete a organizações criminosas. Como se está criando há décadas essa cultura? Nas salas de aula de professores ideológicos, nas novelas de TV que glamurizam o mal enquanto demonizam instituições; no uso ao limite do “politicamente correto”; nos artistas do teatro/cinema/música/literatura financiados com dinheiro público sem nenhuma exigência em troca que não a adesão irrestrita aos poderosos do Planalto Central; nos movimentos dos sindicatos que há muito se desviaram de suas finalidades para nadar nos bilhões anuais que financiam suas diretorias; nos políticos que vendem seus votos em decisões que afetam a todos que deveriam representar; nos empresários que em lugar de competir vivem de isenções e créditos concedidos sem fundamento em qualquer avaliação séria; na parcela do Judiciário que vai perdendo sua capacidade de julgar e promover justiça quando mira para suas “bolsas tudo” que reproduzem e perpetuam nosso mal maior das desigualdades, fruto do nosso nascimento como corte e colônia; e por aí vai, sociedade corrompida pelas organizações criminosas que se organizam com o que demonizam – nos outros, vale repetir – e nas que se apropriam do gigantesco cofre do dinheiro público para seu benefício privado.
Para mudar algo que vem sendo inscrito na nossa cultura como o lado escuro da força é preciso rumo, persistência e tempo, já que a sociedade acorda e se organiza para fortalecer o outro lado. Tema para equilibrar esta, cheia de negativos, com a próxima coluna, a dos positivos.
*Professora Universitária, economista, comunicadora, consultora. Como política ocupou os cargos de Ministra do Planejamento e, como eleita, foi Deputada Federal por quatro mandatos, e Governadora do RS.