Opinião

“A dignidade da conquista”, por Solange Jurema

solangebentes_paulafroes_obritonews-1Recorro novamente ao futebol e à Chapecoense, desta vez não para lamentar a tragédia que se abateu sobre esse bravo time do interior catarinense, mas sim para elogiar a decisão política de seus dirigentes e associados.

A Chapecoense simplesmente recusou a oferta de alguns clubes brasileiros de lhe garantir uma espécie de “salvo conduto” para permanecer na primeira divisão do campeonato brasileiro de futebol por pelo menos três anos.

Quer ficar na primeira divisão do Brasileirão por moto próprio, por vontade própria e graças a seus próprios esforços, não por benesses concedidas por terceiros, por mais justas e razoáveis que sejam, como é o caso.

A Chapecoense quer ter a dignidade da conquista, quer vive-la e saboreá-la como resultado de um trabalho de longo prazo, mesmo que por vezes com gosto amargo, como o campeonato da Sul-americana de 2016. “Nós temos um método de trabalho, uma filosofia de trabalho e nós não vamos fugir disso, ” justificou um dos seus dirigentes.

É incrível como um episódio trágico como o da Chapecoense nos leve a tantas reflexões sobre a nossa jornada pessoal, política e/ou profissional com a gama de sentimentos que nos trouxe.

A solidariedade dos colombianos, as homenagens de seu rival em campo – o Atlético Nacional – e de todos os times do mundo, as manifestações de carinho nos mostraram que o futebol é para nos unir e não para nos dividir. Que o planeta Terra é habitado por seres humanos solidários e que exercem a sua compaixão, apesar das guerras e conflitos.

Nesse contexto, a recente decisão da diretoria do time barriga verde nos faz refletir sobre as conquistas que ainda temos que alcançar com nossas próprias pernas e nos leva a um exercício de memória.

No decorrer da história política do empoderamento da mulher no Brasil as conquistas femininas sempre foram obtidas depois de incansáveis e vitoriosas lutas.

O direito de votar e ser votada, o fim das restrições à participação política até chegarmos às cotas legislativas; temos um longo caminho de dignos triunfos, que só nos engradece.

Não foram benesses e sim vitórias.

E, assim como no exemplo da Chapecoense, andaremos com nossas próprias pernas para elegermos mais mulheres e, em futuro próximo, obtermos um percentual mais justo das vagas nos parlamentos brasileiros.

Com dignidade, luta e dedicação!

*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB