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Senado entrega Comenda Dom Hélder Câmara de Direitos Humanos

imagem_materiaDa Redação | 06/12/2016, 15h56 – ATUALIZADO EM 06/12/2016, 15h59

Em solenidade no Plenário, nesta terça-feira (6), o Senado entregou a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara. Criada em 2010, a honraria distingue anualmente nomes com atuação relevante na defesa dos direitos humanos no país. Nesta edição, cinco pessoas foram lembradas, uma delas in memoriam.

Os agraciados são escolhidos por conselho composto por um representante de cada um dos partidos políticos com assento no Senado. O vice-presidente do conselho, senador Paulo Paim (PT-RS), presidiu a sessão de solene, que também serviu para marcar o Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado em 10 de dezembro.

Destaques

Este ano, foram premiados a fisioterapeuta Cristina Lopes Afonso, destaque em tratamento de pessoas com queimadura (GO); o advogado Omar Ferri, defensor de presos políticos durante a ditadura (RS); o padre Airton Freire de Lima, líder das obras sociais da Fundação Terra (PE); a advogada Maria Eunice Paiva (SP), viúva do deputado Rubens Paiva, assassinado em 1971 pela ditadura militar; e, in memorian, Luciana Lealdina de Araújo, mãe preta que liderou atividades sociais e de educação (RS).

Maria Eunice Paiva, viúva de Rubens Paiva, destacou-se pela luta por justiça, em plena ditadura. Ela não participou nem enviou representante ao evento no Senado.

Dom Hélder

O bispo católico cearense dom Hélder Câmara (1909-1999) foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e ficou conhecido pela sua defesa dos direitos humanos durante o regime militar (1964-1985). Único brasileiro indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz, ele faleceu em agosto de 1999, aos 90 anos.

Em seu discurso, Paim se referiu a dom Hélder como uma pessoa de fé e também como um intelectual e homem de ação, sempre mobilizado para salvar vidas. Segundo Paim, a militância social de dom Hélder foi ainda maior do que seu trabalho político. A seu ver, ele deixou um legado “imprescindível” para os dias atuais.

— Oxalá tivéssemos hoje outros como dom Hélder! Em diversos aspectos, a sua biografia demonstra o quanto acertamos com essa homenagem — comentou.

Heroísmo

O senador Lasier Martins (PDT-RS), que integra o conselho responsável pela comenda este ano, se referiu aos agraciados como “pessoas heróicas, de espírito solidário e humanitário”. Além de indicar Osmar Ferri para receber a comenda, Lasier entregou-lhe o prêmio.

Humberto Costa (PT-PE) falou da honra de ser o autor do pleito da concessão da comenda ao padre Airton. Por meio da Fundação Terra, o padre mantém trabalho social presente em 20 municípios do agreste pernambucano, incluindo escolas, creches, casa para crianças e adolescentes, além de serviços de saúde.

— Sem dúvida, o trabalho da Fundação Terra constitui um exemplo de dedicação à população carente no Nordeste. Um exemplo que deve ser seguido por outros estados e por outras regiões. Um exemplo que precisa ser seguido por todo o País — destacou.

Hoje vereadora em Goiânia, a agraciada Cristina Lopes Afonso foi homenageada pela senadora Lúcia Vânia (PSB-GO), que a indicou. Lembrou que, quando jovem, Cristina foi alvo de um crime bárbaro: por ciúme, o ex-marido atirou álcool e ateou fogo a seu corpo. Depois, formou-se em fisioterapia e dedicou sua vida a ajudar a pessoas que sobreviveram ao fogo. Especialista em queimaduras, em Goiânia ele atuou e dirigiu serviços especializados.

— Cristina poderia ter morrido, mas não morreu; poderia ter apenas sobrevivido, mas foi muito além; poderia ter sido apenas mais uma vítima da violência doméstica, mas resolveu fazer a diferença — destacou Lúcia Vânia.

Risco social

O prêmio in memoriam a Luciana Lealdina de Aráujo (Mãe Preta) foi indicação de Paim, também responsável por entregar a comenda à representante, Tirzah Araújo de Salazar. Ela dirige o Instituto São Benedito, em Pelotas, a entidade que prossegue com a obra, criada há 115 anos. O foco é o atendimento de crianças e adolescentes de periferia em situação de risco.

— Ela superou a própria pobreza, a exclusão, para fundar o Instituto São Benedito – louvou Paim.

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) lembrou a figura de dom Helder para refletir sobre lições que ele poderia oferecer diante do quadro político atual, no qual disse enxergar “riscos institucionais”. Para o senador, o religioso talvez fosse recomendar lucidez e responsabilidade, além de diálogo.

— Essa foi a vida dele: diálogo. Dom Hélder nunca parou de dialogar nem mesmo com aqueles que naquela época estavam no centro do poder ditatorial — disse.

O deputado José Stédille (PSB-RS) representou a Câmara dos Deputados na solenidade.

*Da Agência Senado