Rio é estado do Sudeste com mais casos
POR MÁRCIO MENASCE E SIMONE CANDIDA
27/10/2016 4:30 / ATUALIZADO 27/10/2016 10:51
Márcio Menasce / Agência O Globo
RIO – O verão de 2016 ficou marcado para Fabiane Lopes, Aline Santiago Dionísio e Rachel Silva de Andrade como a estação em que elas tiveram de conviver com uma triste realidade: contaminadas pelo vírus zika durante a gravidez, as três deram à luz bebês com microcefalia. E, entre vizinhos e parentes, passaram a ser “as mães da epidemia”. Desde o nascimento dos filhos, cada uma delas vem aprendendo não só a lidar com as sequelas da anomalia (como convulsões, crises respiratórias e a falta de coordenação motora dos bebês), como com a ausência de assistência. Sem dinheiro, enfrentam dificuldades de transporte para levar as crianças às consultas. Outros problemas são as paralisações em hospitais públicos e a falta de apoio psicológico e de medicamentos. Sem contar o abandono dos parceiros, que, nos casos de Fabiane e Aline, sequer pagam pensão para as filhas.
As três crianças, que vivem em Duque de Caxias, Nova Iguaçu e Teresópolis, fazem parte dos 135 casos de microcefalia associada a infecções congênitas (como a decorrente do vírus zika) registrados no Estado do Rio entre novembro de 2015 e o último dia 15. Além desses bebês, há ainda 379 casos de microcefalia cujas causas ainda estão em investigação.
De acordo com o Ministério da Saúde, entre os estados do Sudeste, o Rio foi o que teve o maior número de registros de microcefalia no período. Em todo o país, foram 2.063 casos confirmados. Ainda há 3.035 sendo investigados.
Apesar da luta diária para manter uma rotina de tratamento para os bebês, da saúde delicada dos filhos e da pobreza, as três mulheres não reclamam da maternidade, nem se sentem tristes pela doença das crianças.
— Sou muito feliz por ser mãe da Valentina. Deus só entrega uma criança como essas para quem tem capacidade de dar muito amor e carinho a elas. Se ele confiou em mim para isso, é porque eu sou capaz — diz Fabiane Lopes, de 32 anos, moradora de Duque de Caxias, mãe de outros quatro filhos, que foi abandonada pelo pai da menina no terceiro mês de gestação.
DANOS MESMO APÓS O NASCIMENTO
Três vezes por semana, Aline Santiago, de 27 anos, precisa contar os centavos a fim de pagar a condução para levar a filha Lorena à fisioterapia (são três ônibus para ir e três para voltar). Quando consegue o dinheiro do transporte, é com prazer que ela faz o trajeto, pois sabe o quanto o tratamento é importante para a menina e para sua própria esperança.
— Os médicos ainda não sabem se ela vai conseguir andar, mas eu acredito nisso e vou lutar até o fim. Sei que ela não vai ser como a minha filha mais velha, não vai engatinhar ou falar com a mesma idade, mas isso não me importa — diz.
Segundo o médico Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas, em Ananindeua, no Pará, e responsável pela descoberta de que o zika causa microcefalia em fetos, pesquisadores ainda tentam descobrir como o vírus permanece ativo dentro do organismo de boa parte dos bebês com a má-formação, causando danos mesmo depois do nascimento.
— Isso não está bem esclarecido, parece que o vírus zika tem essa capacidade de permanecer dentro do corpo, como uma infecção crônica ou latente, que se ativa depois. Isso não é o comum na maioria dos arbovírus. Normalmente, o corpo entra em contato com um vírus, nosso sistema imunológico reage, bloqueando-o e eliminando-o. E a pessoa desenvolve anticorpos. Aparentemente, o sistema imunológico não tem capacidade, em alguns casos, de eliminar completamente o vírus do organismo, resultando em reativação — diz.
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