Brasília (DF) – Além de ter alcançado, nessas eleições municipais, o seu pior desempenho nas urnas dos últimos anos, o Partido dos Trabalhadores enfrenta uma grave crise e divergências internas que podem rachar a sigla e ameaçar o seu futuro. Isso porque não existe acordo entre as correntes do partido quanto à nova direção da legenda. Outro problema é o risco de uma debandada entre os filiados. O medo dos parlamentares é que a imagem desgastada do partido afete negativamente suas respectivas candidaturas.
Reportagem publicada nesta segunda-feira (17) pelo jornal O Estado de S. Paulo revela que, enquanto correntes de esquerda do PT defendem eleições por meio de um congresso nacional, além de mudanças no programa partidário e a adoção de padrões de conduta ética para todos os filiados, a corrente majoritária do partido, Construindo um Novo Brasil (CNB), tenta protelar a data do congresso, para abril do ano que vem, e defende a escolha da nova direção por meio de um Processo de Eleições Diretas (PED), conforme determina o estatuto petista.
Os embates internos são intensificados diante da maior crise da história do partido. Após perder a Presidência da República, que ocupou durante 13 anos, no processo de impeachment de Dilma Rousseff; sofrer uma das mais significativas derrotas nas eleições municipais; e ter os seus principais líderes implicados em escândalos de corrupção; o PT pode sofrer uma nova debandada, desta vez de parlamentares que não desejam atrelar sua imagem à do partido nas eleições de 2018. Segundo o Estadão, dirigentes da sigla calculam que até metade da bancada petista na Câmara pode acabar abandonando o partido.
O deputado federal Nelson Padovani (PSDB-PR) avaliou que a debandada de filiados do Partido dos Trabalhadores é um processo natural em um partido fragilizado que perdeu o poder após um longo período.
“Agora estão fora do poder e não sabem trabalhar sem ele, o que faz com que naturalmente queiram deixar o partido. A incapacidade e a inoperância deles já eram conhecidas, até mesmo pelo fato de administrarem o Brasil. Para mim, não é novidade eles debandarem e abandonarem tudo porque, fora deste partido, sem a Dilma no governo, sem o Lula, sem toda essa gangue, eles não têm representatividade, não têm competência para serem deputados e senadores. Eles ficaram sem patrão e perderam o caminho”, afirmou.
O parlamentar destacou que o PT foi “100% afetado” pelos escândalos de corrupção que envolvem os seus dirigentes e pelo impeachment da ex-presidente Dilma por crime de responsabilidade, assim como pelo desastre da política econômica que conduziu o Brasil à sua pior recessão em décadas.
“Até então, o PT se chamava ‘Lula’ no Brasil, se chamava ‘Dilma’. Eles não têm outro líder nacional. O que eles tinham eram presidentes e ex-presidentes populistas. Eles nunca ficaram no governo com competência, como administradores, nunca fizeram nada pelo Brasil para que o país crescesse. Na verdade, eles destruíram o que nós tínhamos de bom: a nossa economia. O futuro desse partido é se acabar, porque nenhum parlamentar de boa índole vai querer se filiar a ele. Ele só tende a se esvaziar”, considerou.
‘Tiro no pé’
Apesar do principal líder do partido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ser réu na Operação Lava Jato e responder a inúmeras ações por crimes como corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e recebimento de vantagens indevidas, alguns petistas avaliam que colocar Lula na presidência do partido por um ano, comandando uma reestruturação, é uma das poucas esperanças para a manutenção da unidade do PT.
Para o deputado Nelson Padovani, a decisão seria como um tiro no próprio pé. “Aí que o Lula acaba de afundar o partido. Quem é o Lula, quem é a Dilma hoje? Acabou a história deles, não tem mais para onde caminhar. É o fim da ideologia, o fim do ‘Partido dos Trabalhadores’ que tanto enganou os trabalhadores”, completou o tucano.
Leia AQUI a íntegra da reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.