A prisão de Antonio Palocci nesta manhã representa mais um passo da Operação Lava Jato na direção daqueles que comandaram o esquema criminoso que assaltou o país nos últimos anos. Revela, ainda, que o modelo corrupto vinha de longa data, abarcando até personagens cuja atuação no governo era tida como inatacável por alguns.
Palocci é mais um ex-ministro dos governos petistas a cair. Sua prisão se segue à de Guido Mantega, o mais longevo ministro da Fazenda da história republicana brasileira, decretada na semana passada e logo revogada. Da lista também consta Paulo Bernardo, que comandou Planejamento e Comunicações nos governos petistas.
Vera Magalhães antecipou hoje no jornal O Estado de S.Paulo que, além de Palocci, os próximos na mira da Lava Jato podem ser Luciano Coutinho e Erenice Guerra. É mais uma evidência de que também o BNDES e a Casa Civil petistas – esta um celeiro de falcatruas desde José Dirceu – eram usados para negociar bondades que revertessem em pagamentos de empresários ao PT.
A acusação contra Palocci é de que ele teria, já na condição de todo-poderoso da economia nacional, manejado decisões de governo para favorecer grupos empresariais. Nunca é demais lembrar que a passagem dele pelo poder tornou-o um homem riquíssimo, capaz de multiplicar seu patrimônio por 20 em curto espaço de tempo, como foi revelado em 2011, causando sua saída do governo Dilma.
Pela investigação desfraldada hoje, o grupo Odebrecht teria sido agraciado com benefícios fiscais, contemplado em processos licitatórios para aquisição de navios-sonda pela Petrobras e favorecido por linhas de crédito abertas pelo BNDES para contratos firmados com países africanos. Ou seja, um coquetel que une um monte de suspeitas sempre associadas ao PT mas só agora em processo de comprovação.
Segundo as notícias veiculadas nesta manhã, a Odebrecht teria pago mais de R$ 128 milhões ao PT e seus agentes entre 2008 e 2013. Até a compra de um terreno para abrigar o Instituto Lula teria sido destinatária do dinheiro sujo, intermediado por Palocci.
As revelações do mar de propina que irrigava as contas do PT vão deixando claro também como e por que o partido de Lula, Dilma e José Dirceu manteve por anos a fio a mais eficiente máquina de comunicação, mobilização e atuação política do país. A corrupção financiou diretamente o projeto de poder petista.
A operação desta manhã foi convenientemente batizada de “Omertà”, numa referência à prática dos chefões da máfia de não entregarem seus cúmplices. A desobediência é punida com morte. Parece claro que o círculo de investigações da Polícia Federal junto com o Ministério Público está a um passo de chegar a quem, de fato, mandava nesta organização criminosa.