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‘Paralimpíada quebrou preconceitos e ajuda a construir sonhos’, diz Mara

maragabrilli3 no barcoSonia Racy
20 Setembro 2016 | 11h05
“Imagine quantas crianças com deficiência não vão crescer sonhando ser um Daniel Dias, umRicardinho do Futebol de 5”. É assim que a deputada tucana Mara Gabrilli reage ao analisar os Jogos Paralímpicos recém-terminados no Rio de Janeiro. De volta à rotina, depois de trabalhar com a equipe dos Jogos, a deputada, que integra a Frente Parlamentar em Defesa da Pessoa com Deficiência, afirma que o evento – no qual o Brasil ganhou 72 medalhas e ficou em oitavo lugar – mostrou “do que uma pessoa com deficiência é capaz”. Grande apoio da torcida e os benefícios da Lei Brasileira de Inclusão foram decisivos, ressaltou a deputada, em conversa com a coluna.

As 72 medalhas e o sucesso da Paraolimpíada são resultado de uma ação de governo ou da superação e esforço pessoal dos paratletas?
Tem um pouco de tudo envolvido. Neste ano, o Brasil investiu mais na preparação dos atletas do que o comitê dos EUA, por exemplo. Mas o grande diferencial continua sendo a força de superação dos atletas. Soma-se a tudo isso o incrível apoio da torcida, que compareceu em peso. Muitos atletas nunca tinham competido em um estádio lotado, com um ginásio inteiro gritando seu nome. Isso faz aumentar a confiança e contribui para os resultados alcançados.

Qual o legado que fica?
O grande legado é o social. Imagine só quantas crianças brasileiras com deficiência não vão crescer sonhando ser um Daniel Dias, um Ricardinho do futebol de 5, um Petrúcio Ferreira. Ao demonstrar diariamente força e superação, nossos atletas entraram nas casas de milhões de brasileiros quebrando preconceitos, mostrando que o brasileiro com deficiência é, sim, muito capaz. Imagine quantos gestores de RH não vão mudar seu modo de pensar e valorizar o profissional com deficiência, depois de assistir aos jogos. Esse legado poderia ser ainda maior se as emissoras abertas de TV tivessem transmitido os jogos. Nesse ponto, mais uma vez, as pessoas com deficiência foram relegadas a segundo plano.

Num governo sem dinheiro, qual o caminho pra implantar novos programas?
A Lei Brasileira de Inclusão, que relatei na Câmara e entrou em vigor este ano, trouxe um grande avanço nesse ponto – e sem custos para o governo. Nela, aumentamos o repasse da arrecadação bruta da loteria federal aos Comitês Olímpico e Paralímpico Brasileiro, de 2% para 2,7%. Destes, 62,96% vão para o COB e 37,04% para o CPB. Antes eram 85% ao COB e 15% ao CPB. Na realidade, o que houve foi um aumento de 0,7% no repasse ao CPB. Pode parecer pouco, mas faz toda a diferença para a preparação dos atletas.

Qual a “mágica” da China, que faturou 107 ouros e no total 239 medalhas? Poderemos aprender e imitar?
O principal segredo da China é seu número de habitantes. A China tem um Brasil inteiro de pessoas com deficiência: são 200 milhões de chineses com alguma deficiência. Além disso, a China possui, desde 2003, um Centro de Treinamento para Atletas com Deficiência que oferece o que há de melhor para o treinamento dos atletas. Por outro lado, há muitas críticas sobre o processo de formação de atletas – lá se tiram até crianças de casa logo cedo para colocá-los no esporte de alto rendimento. O Centro de Treinamento Paralímpico brasileiro, com sede em São Paulo, inaugurado este ano, já fará muita diferença em Tóquio. / GABRIEL MANZANO

*Publicado originalmente na coluna de Sonia Racy na edição desta terça-feira (20) do jornal O Estado de S.Paulo.