Opinião

“Os mesmos erros”, análise do ITV

Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa extraordinária para votar a Denúncia 1/2016, que trata do julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff por suposto crime de responsabilidade. Mesa: advogado da presidente afastada, José Eduardo Cardozo; presidente afastada Dilma Rousseff Foto: Marri Nogueira/Agência Senado

Plenário do Senado dilma rousseff impeachmentForam 14 horas de uma monotonia quase irritante. Às mais diferentes perguntas, Dilma Rousseff esgrimiu as mesmas respostas. Na sua tentativa de reescrever a história, o Brasil só entrou em crise – e exatamente quando a eleição tinha acabado de passar – porque o mundo estava ainda pior, as contas públicas foram tratadas por ela com zelo nunca antes visto neste país e seu governo só fracassou porque o Congresso não ajudou.

Os 45 minutos do discurso de Dilma e a maratona de questões e respostas que se seguiram conduzem a uma mesma conclusão: a futura ex-presidente da República faria tudo outra vez, sem mudar uma vírgula. Se tivesse oportunidade, conduziria de novo o país ao buraco, se lixando para as críticas e para as evidências de seus equívocos e de suas loucuras.

Um dos principais esteios da argumentação de Dilma é que o Brasil afundou porque o mundo já vinha naufragando desde muito antes. É, basicamente, o oposto da teoria da “marolinha” notabilizada por Lula em 2008, segundo a qual nem uma grave crise global seria capaz de abalar o país – sofremos hoje na pele e no bolso as consequências desta leniência…

Mas vejamos até onde vai a solidez do argumento básico de Dilma. A economia do Brasil está afundando desde 2013, numa queda acumulada de mais ou menos 7%. Neste mesmo período, incluindo o ano em marcha, o mundo terá crescido 11%, de acordo com o FMI. Nada mais distante do que as duas realidades que, na lógica de Dilma, mutuamente se explicariam.

Sobre a solidez fiscal das escolhas da petista, muito já se disse. Não se ouviu, porém, de Dilma ontem no Senado qualquer argumento respeitável sobre o fato de o país enfileirar quatro anos seguidos de rombos bilionários nas contas públicas, a comprovação cabal de que o dinheiro do contribuinte passou a ser tratado como moeda podre na gestão dela.

Dificuldades no Congresso? Alguém já teve maior base parlamentar do que Dilma, que, segundo a ferramenta Basômetro, d’O Estado de S. Paulo, estreou seu primeiro mandato com 80% de deputados aliados na Câmara e ainda dispunha de mais de 60% depois da reeleição? Uma base tão gigantesca para não promover uma reforma estrutural sequer.

Por fim, sobre a ficção de que estamos experimentando um “golpe”, basta dizer que quem já adiantou que não respeitará o resultado do processo de impeachment no Senado é a própria ainda presidente, que deveria jurar obediência às leis e à Constituição. Dilma pretende recorrer ao STF com um mandado de segurança, segundo o Valor Econômico.

A sessão de ontem no Senado, o penúltimo capítulo do penoso, mas necessário processo do impeachment, deixou claro, de uma vez por todas, que há razões de sobra para que Dilma Rousseff seja afastada do cargo de presidente da República. Se não for assim, o Brasil não aguentará outros dois anos vendo os mesmos erros serem repetidos.