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“Dois indicadores e uma realidade”, por Solange Jurema

Foto: George Gianni/PSDB

 

Foto: Tercio Carpello/ASCOM PSDB-AL

Foto: Tercio Carpello/ASCOM PSDB-AL

Informações divulgadas nessa semana mostraram que a realidade das mulheres brasileiras na política é ambígua. Dados políticos apontaram o peso do grupo feminino na sociedade, porém, ao mesmo tempo, revelaram o pouco interesse das mulheres pela carreira política.

Refiro-me, em primeiro lugar, a marcante e majoritária presença feminina no eleitorado nacional, de acordo com os últimos dados apresentados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

As mulheres são praticamente 53% do eleitorado do país e – essa é uma grande novidade – a parcela que mais participou do processo eleitoral de dois anos atrás, na faixa dos 45 a 59 anos. Ou seja, além de sermos o segmento majoritário, também somos aquele que mais comparece às urnas.

Mesmo assim não alcançamos nem 10% do total do Congresso Nacional e continuamos sem voz no parlamento.  O próprio TSE denunciou esse agravante em sua campanha educativa, com o objetivo da valorização da mulher na política.

Somos a maioria das vozes desta Nação, mas não temos voz ativa nas instâncias políticas decisórias. As eleições de novembro são uma oportunidade única para revertermos esse quadro.

Outro dado que merece atenção é que, para mais da metade dos brasileiros (55%), as vítimas de tráfico de pessoas são responsáveis por esta situação, porque, segundo eles, procuraram a “vida fácil”.

O dado é realmente um absurdo, ainda mais diante de outra informação, a de que 96% dos entrevistados pela DataFolha, em parceria com a Associação Mulheres Pela Paz, tem conhecimento do tráfico de pessoas no Brasil.

A ideia de “vida fácil” está intimamente associada à “prostituição de mulheres”, como revelou a pesquisa realizada em oito capitais brasileiras: 31% dos entrevistados identificaram prostituição como “tráfico de mulheres”, superando ao próprio conceito de “tráfico de pessoas” (30%), desrespeito (26%) e escravidão (25%). Em outras palavras, “tráfico de pessoas” é igual a “prostituição de mulheres”.

Evidentemente é um preconceito inaceitável. É necessário exigir das autoridades públicas não só uma efetiva ação de combate ao tráfico de pessoas como também um esclarecimento sobre as verdadeiras razões que levam uma pessoa, qualquer que seja o gênero, a se tornar vítima de quadrilhas, que as enviam para o exterior com a perspectiva de melhoria de vida.

A crônica policial está cheia de exemplos de jovens mulheres que – enganadas do começo ao fim– se tornam até escravas no sentido literal da palavra. Elas trabalhavam em regime fechado, sem possibilidade sequer de sair, com o passaporte confiscado, morando em condições subumanas e sem direito a viver plenamente.

As vítimas não podem serem previamente condenadas pela opinião pública como se fossem as responsáveis, exclusivas do perverso tráfico de pessoas, especialmente de mulheres.

 

*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB