Opinião

“Sem mulheres quem perde é o Brasil”, por Terezinha Nunes

Foto: João Bita/Alepe
Foto: João Bita/Alepe

Foto: João Bita/Alepe

Representando mais de 50% da população brasileira e 52% do eleitorado, as mulheres foram motivo de celeuma nos primeiros dias da gestão do presidente interino Michel Temer que empossou uma equipe em que só havia uma representante do sexo feminino no primeiro escalão: a chefe de gabinete da presidência, função rebaixada para o segundo escalão.

Passados os primeiros momentos e críticas a Temer a ficha caiu e a culpa não foi repassada apenas para ele mas para os partidos que teriam indicado exclusivamente homens ao presidente eleito.

Estaria o Brasil retrocedendo no momento em que as mulheres assumem o protagonismo também na política em diversas partes do mundo?

Não há dúvida de que sim mas a raiz não está apenas na cabeça de uma única pessoa – no caso, Michel Temer – e nem apenas na formação dos partidos políticos brasileiros, embora eles tenham sua parcela de responsabilidade.

A ausência de mulheres na política vista agora mais claramente diante da discussão sobre o tema tem muito mais a ver com o comportamento da própria sociedade.

A culpa é de todos nós e é assim que precisa ser dividida.

Se as mulheres ocupam hoje pouco mais de 10% das casas legislativas do país isso não é só expressão do machismo encrustado em famílias onde os pais colocam primeiro os homens na política e, só em segundo caso, ou na ausência deles, incentivam as filhas mulheres a disputar mandatos.

É na hora do voto que isso fica mais claro. A sociedade, inclusive as mulheres eleitoras, não despertou até agora para o que já é consagrado internacionalmente: a convicção de que no momento em que homens e mulheres trabalham juntos e têm as mesmas oportunidades todos ganham. O estado funciona melhor, as empresas idem e o país cresce mais rápido. As mulheres não são um peso mas uma solução.

As próprias empresas privadas já começaram a pensar nisso e a incluírem mulheres em postos de comando cada vez mais altos. No ano passado, por exemplo, subiu de 5% para 11% o número de mulheres no cargo de presidente de empresas de médio porte no país, segundo a consultoria Grant Thomton.

Em 2012 este percentual era de míseros 2%. A presidente da empresa Neoenergia , Solange Ribeiro, uma dessas destacadas mulheres executivas, afirma que a diversidade é importante na administração de empresas porque as capacidades de homens e mulheres são complementares: “ Um grupo que tem homens e mulheres está mais apto a funcionar como reflexo da sociedade. Traz equilíbrio de opinião”.

E equilíbrio é o que mais se espera e o Brasil reivindica nesse momento. O curioso é que a ausência de mulheres na equipe de Temer só foi notada na posse com a presença exclusiva de homens ao lado do presidente. Nem mesmo a chefe de gabinete estava lá.

Agora se espera que Temer corrija isso pelo menos no segundo escalão e que as políticas públicas voltadas para as mulheres compensem essa ausência inicial.

O mais importante, porém, é a conscientização da sociedade nas próximas campanhas eleitorais. Se Temer teve que compor sua equipe com o objetivo de ter votos no Congresso para as reformas duras que estão por vir, os nomes saíram sobretudo, da Câmara e do Senado e lá as mulheres são só 10%.

Era muito difícil ganharem a batalha com os homens.

E nesse aspecto nem mesmo se poupou a senadora Ana Amélia, do PP, um dos parlamentares – de ambos os sexos – mais competentes da atual composição congressual. Foi ventilada mas foi passada para trás, em seu próprio partido, por dois homens.

Quem perdeu com isso? O Brasil, evidentemente.

*Terezinha Nunes é presidente do PSDB Mulher de Pernambuco*