A crise econômica se manifesta da maneira mais comezinha na falta de dinheiro no bolso. Com desemprego, recessão e inflação, está difícil os salários chegarem ao fim do mês. Para quem tem algum guardado, a saída tem sido avançar na poupança depositada no banco. O país precisa urgentemente voltar a crescer para começar a virar esta página.
Embora tenha amenizado a alta nas últimas semanas, a inflação continua sem dar trégua. Em abril, o IPCA chegou a 0,61%, conforme divulgado nesta manhã pelo IBGE. O índice superou o de março (0,43%) e veio acima de todas as estimativas divulgadas na véspera pelo Valor Econômico. No acumulado em 12 meses, o IPCA encontra-se agora em 9,28%.
Em abril, pesaram justamente os itens que impactam mais diretamente no dia a dia das pessoas. Alimentação e bebidas subiram mais de 1%, repetindo a forte alta dos últimos meses – no acumulado em um ano, os aumentos atingem 13,4%. Gastos com saúde e cuidados pessoais foram os outros vilões de abril, com aumento de 2,3% no mês. Está caro comer, beber e ficar doente no Brasil.
Segundo o Banco Central, a única esperança de que a carestia não continue a avançar é, infelizmente, a recessão. Com menos dinheiro na carteira, o consumidor compra menos e o comerciante e o prestador de serviços se vêm obrigados a baixar seus preços. O desemprego em alta também cuida de frear o consumo e, assim, esfriar a produção, gerando novos cortes de postos de trabalho. Um triste ciclo vicioso.
Para fazer frente às despesas que não cessam, os brasileiros estão sendo obrigados a torrar suas poupanças. Ontem o Banco Central informou que em abril, novamente, os saques superaram os depósitos. Desta vez em R$ 8,2 bilhões. Foi o pior resultado para o mês em 21 anos. Há quatro meses o patrimônio das poupanças vem diminuindo e já encolheu 2,5% neste ano.
Desde o início de 2015, as cadernetas foram esvaziadas em R$ 85 bilhões (perda líquida), uma sangria nunca antes vista neste país. Nestes 16 meses, em apenas uma ocasião (dezembro passado) o saldo da movimentação das poupanças não foi negativo. Só o dinheiro suado das economias é quem tem conseguido salvar os brasileiros.
O mal-estar que ronda a vida dos brasileiros assolados pela crise econômica pode ser sintetizado no chamado índice de desconforto. Computado pelo Banco Fibra, soma a taxa de inflação à do desemprego para tentar expressar os estragos que a economia em baixa causa no dia a dia das pessoas. O percentual chega hoje a 21%, o maior desde 2012.
É este desalento de ponta a ponta que terá de ser enfrentado pelo governo que assume o país na próxima semana. Para vencer o desafio, é imperativo que uma agenda de reformas que oxigenem o ambiente econômico e façam voltar a girar a roda dos investimentos seja implementada. Os brasileiros irão comemorar, e agradecer.