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“O machismo e a sutileza das palavras”, por Cristina Lopes Afonso

dracristina_fotoMuito mais comuns que agressões físicas são os comportamentos sutis e não menos graves contra o sexo feminino com conseqüências altamente perturbadoras para as mulheres. Na imensa maioria das vezes, acabam tidos como naturais e aceitáveis, sem qualquer tipo de estranhamento. Desta maneira, corroboram com o fortalecimento de concepções machistas e profundamente preconceituosas, desenvolvidas por mentes que se julgam das mais humanistas; o que, claramente, não o são.

Nos últimos quatro anos, 2,5 mil mulheres de Goiânia registraram queixa na polícia por estupro. O que mais impressiona é que, além de serem submetidas à violência das mais repugnantes, as vítimas acabam sujeitas a todo tipo de julgamento por aqueles que, estranhamente, apontam “justificativas” para o crime, culpando a mulher. Multiplicam-se opiniões criminosas endossando o “direito” do agressor: “- Ela é bonita demais! Nenhum homem resiste”. Não raras vezes, as expressões partem de outras mulheres: “- Olha como ela estava vestida! Quase pelada!”

Difícil é descobrir qual o comentário mais perverso. Em casos de estupros cometidos por maridos ou companheiros inconformados com a perspectiva de separação, são reproduzidas críticas como: “- Homem é assim mesmo. Não consegue ficar sem sexo!” ou “Afinal, ela está com ele porque quer”. Nos bares, se a mulher foi violentada, “é porque procurou ou bebeu demais. Não se cuidou!”, como se o crime fosse justificável pelo comportamento da vítima.

Entre os falsos defensores dos bons costumes, prevalecem as piadas que, no ambiente de trabalho, rebaixam o valor da trabalhadora pelo fato de ser mulher. “Elas têm licença-maternidade e cuidam de casa e dos filhos. Acabam sem chance no mercado”, argumentam na tentativa de desqualificar atributos profissionais. Também são comuns “as brincadeiras” que atentam contra a aparência para subestimá-las.

Tais conceitos têm relação direta, por exemplo, com a histórica desigualdade salarial entre homens e mulheres e com a predominância masculina nos cargos de chefia. Nesses casos, os colaboradores acham absolutamente natural que o gênero seja reconhecido como definidor das políticas de gestão de pessoas. Contraditoriamente, em todos os outros casos, quando é desconsiderado o mérito, bradam vozes denunciando grave injustiça.

Neste 8 de março, conclamo todas as mulheres a refletirem em busca da origem do pensamento machista. Tanto para combater com argumentos conceitos que a sociedade entende como máximas inquestionáveis, quanto para refletir e rever as
próprias posturas, que o costume impõe à mulher como procedimento inerente ao gênero. Defender a dignidade humana significa reconhecer que os direitos fundamentais assistem a todos, indistintamente.

Nessa reflexão, é fundamental compreender a sutileza de palavras, que escondem verdadeiros dogmas de gênero, determinando cores, comportamentos, preferências de homens e mulheres, a priori, sem considerar características da própria personalidade. Está aí a base ideológica de todo tipo de violência de gênero, que resulta em torturas psicológicas, ameaças de toda sorte até os mais bárbaros crimes. Cabe especialmente as mulheres se unirem em torno de uma nova posição.

* Cristina Lopes Afonso é vereadora pelo PSDB em Goiânia, preside a comissão de Direitos Humanos da Câmara e é fisioterapeuta especialista em queimaduras.