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Dona Yara, aos 84 anos, uma testemunha da evolução do papel da mulher na sociedade brasileira

Foto: Arquivo pesoal
Foto: Arquivo pesoal

Foto: Arquivo pesoal

Brasília (DF) – Dona Yara Ferreira de Jesus é uma simpática senhora de 84 anos que nasceu no mesmo ano em que as mulheres brasileiras conquistaram o direito ao voto.

Ativa, dona Yara tem quatro filhos, seis netos e cinco bisnetos, e até hoje faz ela mesma suas compras no supermercado perto de casa.

Formada em enfermagem pela Universidade Federal de Goiás, trabalhou como instrumentadora cirúrgica (especialização em cirurgia pulmonar), do antigo Hospital JK. Professora, dona Yara se aposentou como enfermeira da Secretaria da Saúde do Estado de Goiás.

Viúva vive sozinha em sua casa, com a ajuda da fiel escudeira Divina, onde se dedica a bordar, ler e dar caminhadas até a banca de jornal e ao comércio próximo. Não sem antes cumprimentar e falar com toda a vizinhança, que a conhece há anos.

Animada, faz pilates e natação e é voluntária do Grupo Espírita, onde colabora fazendo enxovais para recém-nascidos.

Em todos os aspectos, dona Yara é uma testemunha viva das transformações vividas pela mulher nestes 84 anos de lutas e conquistas desde o primeiro voto feminino no Brasil.

É também uma representante da mulher da terceira idade, segmento da população que felizmente vem aumentando a cada dia mais, embora em um país que não tenha se preparado para ampara-lo.

PSDB Mulher – Dona Yara, a senhora nasceu há 84 anos, exatamente quando as mulheres conquistaram o direito ao voto. Tantos anos depois como vê a importância desse evento?

Muito importante porque as mulheres têm seus direitos e opiniões e podem expressar isso quando votam. Podem escolher em quem vão votar. A gente tem direito porque paga impostos como os homens.

PSDB Mulher – A senhora lembra quais foram os primeiros candidatos em que votou?

Pedro Ludovico Teixeira. Faz muito tempo. Cerca de sessenta e cinco anos atrás. Mas lembro de que gostei de votar… (risos).

PSDB Mulher – Como foi ficar sem votar no período das ditaduras de Getúlio Vargas e do regime militar?

Foi muito ruim. É um erro muito grande porque me impediu de dar o meu voto. Além disso, tiraram da gente o direito de escolher quem ia governar. Foi muito ruim mesmo. Esses regimes cerceiam nossos direitos e tudo que não é livre sou contra, desde mocinha.

PSDB Mulher – A senhora percebeu diferenças no modo de agir dos governantes quando eles eram eleitos pelo povo ou quando eram nomeados por um ditador?

Muita diferença. O político eleito pelo povo precisa dele para ser eleito e faz coisas para melhorar a vida de todo mundo. O político que não precisava do povo para se eleger não cuidava do povo do mesmo jeito. Pode ter certeza de que o eleito pelo povo foi sempre muito melhor do que os outros.

Agora uma ressalva: Sobre Getúlio Vargas; ele fez muito, a criação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), publicou o Código Penal e o Código de Processo Penal, todos em vigor atualmente. Getúlio Vargas foi responsável também pelas concepções da Carteira de Trabalho, da Justiça do Trabalho, do salário mínimo, e pelo descanso semanal remunerado. Muito para um ditador. Muito para os brasileiros.

PSDB Mulher – Qual foi o primeiro presidente da República em que a senhora votou? E o primeiro governador?

Como disse, faz muito, mas muito tempo mesmo. Acho que foi no Getúlio Vargas, mas não tenho certeza.

PSDB Mulher – Depois de 84 anos a senhora entende que ainda é preciso fazer mais leis para que as mulheres sejam votadas?

Acho que já tem leis demais. Só basta elas serem cumpridas. A mulher já tem direito de votar e de também ser votada. Tem que ter coragem para quebrar os preconceitos. Nenhum homem vai dar o seu lugar para as mulheres. As mulheres estudam mais do que os homens. É com a nossa coragem que mudaremos o mundo. Confio nas minhas netas e bisnetas. É essa geração, que vai mudar. Ela já está encontrando a estrada pavimentada. É ela que vai mudar. Pra mim isso é suficiente.