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Casos de zika congênita desafiam médicos e cientistas

Foto: Corbis
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Vírus na gestação está ligado a combinação de problemas

POR ANA LÚCIA AZEVEDO

14/02/2016 6:00 / ATUALIZADO 15/02/2016 7:53

Campina Grande (PB)— O filho de Maria passou algumas horas no mundo. A mãe mal viu o menino. Ele morreu pouco após nascer. Maria é também menina. Tem 15 anos e não entende o que matou o seu bebê, o primeiro caso de que se tem notícia no Brasil de uma combinação de problemas que médicos e cientistas começam a chamar de zika congênita. Como Maria, eles também não compreendem quase nada e se assombram como o vírus pode causar tamanha devastação.

— Foi nosso primeiro caso. Aconteceu em novembro, antes do alerta nacional sobre o zika. Sabíamos que a mãe tinha sofrido de zika. A criança era microcéfala, mas esse era só parte de seus problemas. A mãe não conseguia entender nada, ficou desesperada. E é desesperador ver uma tragédia tão grande assim e tentar consolar o inconsolável — explica a médica e pesquisadora Adriana Melo ao falar do filho de Maria, a menina cujo nome verdadeiro ela prefere omitir.

Ventrículos cerebrais aumentados

A criança sofria de artrogripose severa, com pernas e coluna gravemente deformados.

— Infelizmente, temos visto outros casos assim. Observamos um padrão na Paraíba que parece mais grave. Não sabemos o porquê. Há natimortos. Só na semana passada foram dois, com destruição do cérebro. Eles não eram microcéfalos. São diferentes de outros casos relatados no resto do país. Muito mais severos. O cérebro é praticamente todo líquido — frisa a médica, cujo grupo foi o primeiro a alertar para a existência de outras complicações, além da microcefalia.

Casos como o de Guilherme, o bebê de outra moça do sertão. Foi do líquido amniótico de Guilherme que o zika foi isolado e sequenciado nesse meio pela primeira vez, pelo grupo integrado por Adriana, Amílcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Ana Bispo, da Fiocruz .

— Guilherme não era microcéfalo, tinha perímetro encefálico normal. Mas os ventrículos cerebrais estavam muito aumentados. Ele praticamente não tinha mais cérebro — diz Adriana.

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