Opinião

“A polêmica sobre aborto e microcefalia”, por Terezinha Nunes

Foto: PSDB-PE

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Até o mais aguerrido dos abortistas reconhece que é dificílimo para uma mãe decidir fazer um aborto. Concebida com direito a procriar, a mulher pode carregar para o resto da vida a culpa por uma atitude dessas.

Se alguém tem dúvida, basta verificar o sofrimento de mães que abortam naturalmente. Muitas se desestabilizam emocionalmente de forma preocupante.

Há as que, aparentemente, encaram e tratam o tema como algo normal e não se abalam, quer no caso de aborto espontâneo ou provocado. Mas são minoria.

Alheio a essa realidade o tema do aborto ganhou força, nos últimos dias, no Brasil a partir de um pronunciamento da Organização Mundial de Saúde sobre a provável ligação do zika vírus com a microcefalia e levantando a possibilidade do direito ao aborto nessas condições.

Cristãos não católicos como os anglicanos, por exemplo, admitem discutir a questão. Ao mesmo tempo grupos defensores do direito ao aborto se articulam para provocar o Supremo Tribunal Federal sobre o assunto.

Além do tema do aborto ser polêmico independente de religião e de não contar com o apoio da maioria da população brasileira que, através de seguidas pesquisas, tem se posicionado contrária à sua adoção indiscriminada no país a discussão tem gerado mais dúvidas do que certezas na cabeça das mulheres, muitas delas apavoradas com o que está acontecendo.

O presidente da CNBB, Dom Sérgio da Rocha, pôs o dedo na ferida ao manifestar, mais uma vez, a posição da Igreja Católica contrária ao aborto e alertar para o perigo da prática da eugenia. A eugenia é uma ciência que busca o aprimoramento genético da espécie humana de forma a ter pessoas cada vez mais perfeitas. Hitler usou este processo na Alemanha quando, ao defender a supremacia da raça ariana, matou milhões de judeus que, para ele e seus seguidores, eram pessoas imperfeitas.

Na semana passada a celeuma ganhou novos contornos a partir do que vai se divulgando a respeito da zika e a microcefalia. Estudiosos apontam que é preciso que o bebê tenha 32 semanas de vida para se ter certeza de que tem microcefalia.

O coordenador de Medicina Fetal do Cisam, Pedro Pires, advertiu que não se trata de um simples aborto, mas de uma interrupção prematura da gravidez. “Nesse caso – acrescentou – o bebê vai nascer vivo. E quem vai decidir se ele continuará vivo ou não?”

Em geral, quando falam de aborto as pessoas se referem a crianças de poucas semanas de vida. Embora essas tenham direito a viver da mesma forma que as demais, uma coisa é a provocação de um aborto logo após a confirmação da gravidez e outra já perto da hora do nascimento, o que é muito mais complexo e polêmico. Uma criança de 8 meses pode tranquilamente sobreviver, mesmo se a mãe fizer um parto prematuro.

Sabendo disso, os grupos favoráveis ao aborto, mudaram o discurso e já pensam em solicitar ao STF que as mulheres estando grávidas e tão logo constatem que tiveram zika sejam autorizadas a abortar.

Essa teoria é ainda mais polêmica. Sabe-se que muitas mulheres que tiveram zika não geraram bebês com microcefalia. Essas mães, diante da incerteza, vão querer fazer o aborto? Mesmo admitindo que não desejem um filho com problema elas não serão ainda mais afetadas psicologicamente ao descobrirem que os filhos eram perfeitos e, mesmo assim, foram abortados?

Todas essas questões demonstram que vai ser grande, difícil e penoso o debate sobre o tema que só está se iniciando. Melhor seria que se gastasse em primeiro lugar as energias para conseguir que as mães de filhos microcéfalos fossem amparadas, imediatamente, pelo estado, recebendo ajuda mensal e todo o aparato necessário para que essas crianças enfrentassem de uma melhor forma as sequelas deixadas pela doença.