Afável, inteligente e divertida, chegou ao Palácio do Planalto senhora já de trajetória intelectual sólida e de carreira profissional respeitada; abdicou do cargo de primeira-dama dizendo que se tratava de uma “caricatura do original americano” e preferiu trabalhar de verdade criando o saudoso e eficiente Comunidade Solidária. Falo, claro, de dona Ruth Cardoso, guardiã, junto com o marido, da delicadeza e da honestidade de meios e fins nos Palácios do Planalto e Alvorada antes que a jequice, a truculência e a pilantragem as expulsassem dos respectivos salões.
Eu era professora de português para estrangeiros e, além de lhes ensinar nossa língua tão linda, sentia-me comprometida em traduzir o país para aquelas famílias estrangeiras, que vissem que não somos o povo do jeitinho, do faz assim mesmo que ninguém vai perceber, do deixa para amanhã o que já foi deixado ontem, do todo mundo faz assim. Com familiares e amigos que venceram pelo trabalho, estudo e capacidade, queria que os alunos soubessem o quão profissionais e honestos podemos ser.
Os tempos eram outros, corriam os anos 90, tínhamos outros exemplos e acho que, em geral, alcancei meus objetivos. Nos desdobramentos incríveis do Plano Real e na terapêutica de algumas insanidades nossas iniciada pelos governos FHC, recentemente batizados de “mar de insensatez socialista” num artigo risível, as instituições se revigoravam, a economia se estabilizava, o Estado e os mecanismos de governança se submetiam a agências fiscalizadoras, vigia o princípio republicano de separação entre público e privado, a democracia amadurecia no país que em 10 anos se livrara da ditadura militar e, na boa, se refazia de um impeachment: o Brasil se modernizava e parecia que chegaríamos à civilização.
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