Opinião

“As trapalhadas de Wagner”, por Terezinha Nunes

Terezinha-Nunes-Foto-George-Gianni-Interessado em fechar o ano de 2015 tentando fazer com que a presidente Dilma volte a respirar neste início de 2016, o ministro Jaques Wagner, o legítimo representante do ex-presidente Lula na Esplanada dos Ministérios, ocupou o espaço da mídia na passagem do ano para explicar que o PT se “lambuzou” no exercício do poder e, ao mesmo tempo, passar a impressão de que o impeachment são favas contadas: “vamos enterrar o impeachment” – vaticinou.

Ao reconhecer os erros do PT que já levaram alguns dos seus principais líderes para a prisão, o ministro inovou pois até agora, nem sob cobrança popular, uma liderança petista tinha sido tão explícita quanto ele foi.

Já no caso do impeachment, Wagner cometeu dois deslizes suficientes para deixar dúvidas sobre suas reais intenções neste inesperado exame de consciência.

O primeiro ao reproduzir a empáfia do seu partido, desprezando o poder de reação da população e do próprio Congresso a quem vai caber o julgamento final do caso das pedaladas fiscais, e o segundo ao querer deixar claro que o pagamento das pedaladas no final de 2015 no valor de R$ 72,4 bilhões quitou a dívida da presidente para com o povo brasileiro.

Não é novidade o PT, quando surpreendido em flagrante delito, usar o próprio crime em interesse próprio. Assim fez o ex-presidente Lula na época do mensalão quando primeiro disse que se tratava de caixa 2 “coisa que todo mundo usa” e depois ao usar a célebre frase de que “não sabia de nada”. Recentemente, Lula, encurralado, culpou José Dirceu afirmando que caberia a ele, como chefe da Casa Civil, escolher a diretoria da Petrobrás. Ele, Lula, só assinava embaixo.

Agora Wagner trata as pedaladas como um descuido – um crime culposo na linguagem policial quando se causa mal a alguém sem intenção de provocar danos. Aí o ministro passou das medidas. Ou considera a presidente incapaz, por não saber discernir sobre o que é certo ou errado, ou imagina que os brasileiros são tolos o suficiente para acreditar que Dilma não tem culpa no cartório.

Como já fizeram outros líderes petistas, Wagner quer passar a impressão de que Dilma sacou no cheque especial e pagando agora a dívida, ficará com a ficha limpa.

O ministro esqueceu de falar a linguagem que o povo entende – certamente com a intenção de escamotear. Ora, além de ter cometido crime violando a Lei de Responsabilidade Fiscal, o que nenhum administrador público pode fazer, a presidente – o que é mais grave – usou desse expediente para ganhar a eleição, escondendo do povo brasileiro a realidade das finanças públicas e fazendo com que , em 2014, muita gente se endividasse, imaginando que o país estava bem, quando o buraco já era imenso.

Isso é ou não é crime? Qualquer criança, se bem informada dos fatos, vai dizer que é. E o que dirão os desempregados de agora? As donas-de-casa apavoradas com a inflação, os empresários sendo obrigados a demitir e os governadores e prefeitos apavorados sem conseguir fechar direito as folhas de pagamento?

Independente da quitação das pedaladas que Wagner imagina ter o poder de apagar o crime cometido, os malfeitos da presidente são muito mais profundos e causaram danos impossíveis de se mensurar agora porque ainda não se sabe o seu poder de destruição nesse ano de 2016.

Tudo bem que o ministro tenha querido passar um clima de otimismo de Ano Novo e levantar a moral da sua chefe mas, mesmo que o impeachment não seja aprovado em função de termos um Congresso majoritariamente fisiológico, os crimes de Dilma foram mais longe do que a simples subtração irregular de recursos. Chegaram ao bolso e deixaram na rua da amargura milhões de pessoas enganadas em 2014.

 

Terezinha Nunes é presidente do PSDB Mulher-PE