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“Nem tão longe assim”, por Solange Jurema

Foto: Corbis Images
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“Arábia Saudita elege ao menos 20 mulheres”!

A manchete dos sites, blogs e jornais nos chama a atenção pelo inusitado e pela novidade, acompanhada por uma reflexão: o que nós, brasileiras, temos a ver com isso?

Temos muito, temos tudo a ver e a comentar.

Mesmo a 11 mil quilômetros de distância, a presença e a vitória das mulheres sauditas na primeira eleição em que puderam participar em milênios, é um exemplo para nós, brasileiras que ainda lutamos pela conquista de mais espaços institucionais na vida política nacional.

A vitória de ao menos 20 sauditas – segundo os resultados preliminares anunciados por distritos locais nesta segunda-feira (14) – nos conselhos municipais das cidades da Arábia Saudita reveste-se de conteúdo histórico exemplar, quando coletamos informações sobre o processo eleitoral desse país árabe e muçulmano.

As mulheres lá são menos de 10% do total dos eleitores sauditas – 1,35 milhão de homens contra 130 mil mulheres – e, matematicamente, seria impossível conseguir só com os votos femininos uma das 2.100 vagas nos conselhos municipais do país.

Há de se registrar que as regras eleitorais de propaganda são absolutamente restritivas: não se permite fotos de candidatas e candidatos, não há transmissão de propaganda pela televisão e nem mesmo mensagens telefônicas, bem semelhantes às do Brasil no regime militar, com a chamada Lei Falcão.

Sem espaço para debater, para se apresentar como candidata e concorrendo contra o milenar preconceito cultural – como, por exemplo, não se dirigir diretamente ao homem – a pequena, mas grandiosa eleição de 20 mulheres deve, sim, ser saudada e comemorada pelas mulheres brasileiras.

Não deixa de ser simbólico que a primeira mulher a ser confirmada como eleita, Selma Hizab al Oteibi, veio da província de Meca, que abriga o local mais sagrado do Islã, a Kaaba, esse cubo negro que atrai as orações de todos os muçulmanos pelo menos cinco vezes por dia.

No Brasil, nossa meta política é ampliar a presença feminina no Congresso Nacional, hoje de menos de 9%, quando somos 51% da população e 52% dos eleitores e respondemos, sozinhas, por cerca de 40% dos lares brasileiros.

A vitória das sauditas nos estimula a continuar nossa batalha para conquistarmos, nos partidos e nas eleições, um espaço institucional maior e mais de acordo com o que as mulheres representam hoje na vida política, econômica e social do Brasil.

Ano que vem, nas eleições municipais, vamos conquistar mais vagas nas prefeituras e nas câmaras de vereadores para sermos, assim como as sauditas, um exemplo mundial para as mulheres de todo mundo que lutam por mais conquistas.

Viva as sauditas, bem próximas de nós!

*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB