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Trabalhar como se não tivesse filhos, ser mãe como se não trabalhasse fora

Rita Lisauskas

24 novembro 2015 | 09:45

Uma conta que parece nunca fechar

 

Ontem eu saí muito cedo de casa e não vi meu filho acordar. Depois, quando voltei, ele estava na escola e ia sair mais tarde do que o habitual, porque segunda é dia de aula de judô. Mesmo cheia de coisas para fazer, fiquei meio que paralisada dentro de casa, como uma barata tonta. Eram quase 7 da noite de um dia comum, eu tenha feito tantas coisas legais no trabalho e na vida, mas não a principal: não tinha dado sequer um beijo de bom dia no meu filho e já era quase hora de desejar boa noite.

Fiquei pensativa porque li uma frase no Facebook: “Preciso trabalhar como se não tivesse filhos e ser mãe como se não trabalhasse fora.” Essa conta não fecha, nunca vai fechar. Temos de ter disponibilidade de entrar no trabalho em horários malucos, estender a jornada para as reuniões ou eventualidades e, ao mesmo tempo precisamos (e queremos!) estar lá quando eles acordam e quando choram. Queremos deixar na escola, fazer a lancheira e poder largar tudo se uma doença infantil ou um braço quebrado ignora a agenda maluca e inflexível que a vida adulta e capitalista nos impõe.

Se engana quem pensa que essa angústia apareceu porque meu filho estava com estranhos enquanto eu trabalhava. Ele acordou com o pai, almoçou com o pai, foi levado à escola pelo avô. O buraco no peito é meu, todo meu, nada tem a ver com falta de parceria na criação ou de companhia. Era eu que queria estar com ele, perguntar se teve pesadelo e desejar que tivesse um bom dia.

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