Durante uma semana fomos levados a acreditar que o vazamento da barragem de Fundão era um fato de pouca importância. Segundo matéria publicada pelo site G1, a mineradora Samarco, responsável pelo desastre, chegou ao cinismo de negar até a ruptura da segunda barragem, de Santarém.
A partir de então, o que a população acompanhou foi um crescendo de notícias desencontradas. No dia 6 de novembro ficamos aliviados, porque os rejeitos despejados sobre a cabeça de milhares de mineiros não eram tóxicos, no que hoje se sabe foi uma tentativa deliberada de esconder o maior desastre ambiental da História do Brasil.
Não foi uma tragédia, porque poderia ter sido evitada, não aconteceu por intervenção divina ou forças da natureza. Foi um drama terrível, causado pela ganância de empresas irresponsáveis, aliadas a um governo federal omisso, que demorou quase uma semana para visitar a área afetada e se retirou sem um pronunciamento, uma proposta, nada.
Hoje sabemos que o Rio Doce está morto, que 63 cidades mineiras enfrentam vários tipos de racionamento d’água em virtude da ruptura de duas barragens da Samarco e que os efeitos desse desastre ambiental comprometerão nosso solo por muitos anos e chegarão ao Oceano Atlântico. Uma vez no mar, envenenarão peixes e entrarão em nossa cadeia alimentar, atingindo animais e seres humanos, provocando sequelas ainda imprevisíveis.
A parcialidade na desinformação foi tamanha que um grupo apartidário de cientistas está nesse momento se organizando para uma ação de análise independente dos danos ambientais na região.
Novembro não deixará saudades, na noite do dia 13 uma série de atentados sacudiu Paris com violência jamais vista na cidade-luz.
Acompanhando a cobertura desse horror, não pude deixar de perceber que, enquanto os motoristas de táxi parisienses levaram para casa de graça milhares de pessoas na noite dos atentados, nossos comerciantes triplicaram o preço da água mineral nas cidades atingidas pela lama tóxica.
Empatia, solidariedade e respeito ao sofrimento do Outro são características de desenvolvimento social de um povo.
Menos esperteza e mais compaixão talvez sejam um bom começo para mudar a enorme crise moral, política e econômica que se abateu sobre nosso Brasil.
*Thelma de Oliveira é vice-presidente do Secretariado nacional da Mulher/PSDB e membro da Executiva Nacional do PSDB