Opinião

“Poder feminino”, por Terezinha Nunes

terezinha-280x300 azulEnquanto o Brasil vê naufragar o governo comandado por uma mulher, a população da Polônia, sexto país mais populoso da União Europeia, foi chamada às urnas este final de semana para consagrar o poder feminino representado pelas duas principais concorrentes ao cargo de primeiro-ministro: a liberal Ewa Kopacz, do partido Plataforma Cívica e a conservadora Beata Szydlo, do partido Lei e Justiça, que saiu vencedora.

Mesmo as pessoas que não simpatizassem com as duas principais candidatas e quisessem votar em uma mulher tinham uma terceira opção. Bárbara Nowacha, 40 anos, representou no pleito a Esquerda Unida, um conglomerado de pequenos partidos. Os homens que se candidataram eram menos expressivos eleitoralmente do que qualquer uma delas. Da direita à esquerda o espaço foi ocupado pelas mulheres.

Conhecida internacionalmente pelo movimento Solidariedade, liderado por Lech Walesa que em 1989 conseguiu derrubar o regime comunista no país e fundar uma República Parlamentarista, a Polônia tem apenas 20% das 460 vagas do parlamento ocupadas por mulheres mas, em meio à crise vivida pelo poder masculino marcada por escândalos nos últimos dois anos e uma lei de 2011 que garantiu 35% das vagas nos pleitos às mulheres, o poder feminino cresceu. E surpreendeu.

O partido Plataforma Cívica já tinha optado por uma mulher – a atual primeira-ministra Ewa Kopacz, pediatra, 58 anos, – quando seu principal líder Tusk Donald se afastou para ocupar a presidência do Conselho Europeu no ano passado.

A antropóloga Beata Szydlo, 52 anos, foi escolhida candidata pelos conservadores do Lei e Justiça em função do desgaste do principal líder do partido Jaroslaw Kaczysnki , que apresentava índices de intenção de voto incapazes de convencer o mais apaixonado dos eleitores.

O desgaste dos homens ou o afastamento do líder masculino principal, como ocorreu com Plataforma Cívica, fez o poder cair no colo das mulheres.

O que todos perguntam para além do que cada uma delas representa é se esse namoro com as mulheres políticas na Polônia vai continuar quando os homens se recuperarem ou estiverem disponíveis.

Em meio aos debates eleitorais o assunto veio átona, afinal o fato da Polônia surgir como um país feminino surpreendeu a Europa. E ganhou manchetes de jornais.

Citada pela Associated Press a analista política polonesa Kazimierz Kik disse que as mulheres “podem estar sendo usadas como instrumento do jogo político”. Outros analistas também ouvidos por agências internacionais ponderaram que isso vai depender de como as mulheres vão se comportar daqui para a frente.

Mesmo assumindo por conta do desgaste dos homens, elas vêm experimentando uma relevância gradativa e constante no sistema político polonês. As estatísticas demonstram que nos últimos 20 anos aumentou em 80% a presença feminina nas casas legislativas do país, o que já expressa um significativo avanço, independente de desgastes momentâneos.

Independente do que vai acontecer no futuro, não deixa de ser significativo o eleitor chegar em um pleito nacional e ver que as mulheres ganharam os primeiros postos enquanto os homens permaneceram na penumbra. Só isso já é um grande avanço. O resto será construído com o tempo.

  • Terezinha Nunes é presidente do PSDB Mulher de Pernambuco