Uma das especialidades petistas é achincalhar as instituições. O rol inclui todas as que podem causar algum constrangimento às ações do partido e, principalmente, aquelas que são importantes instrumentos de fiscalização e controle das atividades de governo. Assim tem sido com as comissões parlamentares de inquérito, as antes temidas CPIs.
Neste exato momento, o PT está empenhado em enterrar mais uma: a da Petrobras. O relatório apresentado ontem pelo deputado petista Luiz Sérgio é um escárnio do começo ao fim. Nas 754 páginas do documento, faltou pouco para o ex-ministro de Dilma afirmar que o petrolão jamais existiu. O resto, ele fez.
Para começar, a Petrobras é apresentada como “vítima de atos de corrupção cometidos por alguns diretores e gerentes e por ação de um grupo de empreiteiras”. Segundo o relator, ainda à página 635 do texto divulgado ontem, “as ações ilícitas foram isoladas, não sendo possível afirmar a existência de ‘corrupção institucionalizada’”.
Segundo a visão malcheirosa apresentada pelo relator, pelo visto bagrinhos se organizaram em conluio de pé de ouvido com empresas maldosas para assaltar a empresa. Como explicar que esta espécie de ação entre amigos, a prevalecer o texto de Luiz Sérgio, redundou num assalto calculado pelo Ministério Público, até agora, em R$ 20 bilhões?
Também desaparece da história, na versão fabulosa do petista, a ponta mais relevante do esquema: o desvio de recursos públicos para partidos políticos, em especial o PT. Até os percentuais eram conhecidos – 3% dos contratos, a maior parte deles para os petistas – mas, segundo o relator, a “tese” de que o dinheiro sujo irrigou caixas partidários e campanhas é “duvidosa” (p. 619). Vale lembrar que as mesmíssimas suspeitas são alvo, inclusive, da Justiça Eleitoral e podem levar à impugnação da chapa Dilma-Temer.
Ainda de acordo com a fábula petista, ninguém que realmente tinha poder de mando na estatal teve qualquer responsabilidade sobre o maior escândalo de corrupção da história. Saem incólumes os presidentes da companhia à época do esquema, mas também a presidente do conselho de administração da Petrobras durante quase todo o período do assalto: Dilma Rousseff.
Não satisfeito em ignorar a realidade para tentar construir uma farsa, o relator dedica-se a buscar implodir o trabalho de quem realmente está conseguindo desbaratar a roubalheira: a Operação Lava Jato. A delação premiada, instrumento que tem levado às principais descobertas até agora, é atacada e deveria ser mudada, sugere Luiz Sérgio. Para ele, “o excesso de delações premiadas pode levar à impunidade” (p. 587).
Depois de oito meses de trabalho, a CPI da Petrobras caminha para terminar seguindo o mesmíssimo script da comissão mista que funcionou até dezembro do ano passado: em uma indigesta pizza de piche. É mais que válida, portanto, a intenção da oposição de apresentar um relatório alternativo, a fim de que a realidade prevaleça sobre a ficção que o PT adoraria que, mais uma vez, vingasse.