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Cresce nº de mortes por câncer de mama em regiões pobres

Mammogram of Breast With Tumor --- Image by © Visuals Unlimited/Corbis
Mammogram of Breast With Tumor --- Image by © Visuals Unlimited/Corbis

Mammogram of Breast With Tumor — Image by © Visuals Unlimited/Corbis

FABIANA CAMBRICOLI – O ESTADO DE S. PAULO

27 Setembro 2015 | 22h 00

Taxa de mortalidade é até 11 vezes maior em comparação com áreas ricas; dificuldade de acesso ao tratamento é a principal razão

SÃO PAULO – A variação anual da taxa de mortalidade por câncer de mama é até 11 vezes maior em áreas pobres do País, em comparação com regiões ricas. É o que mostra estudo inédito da Sociedade Brasileira de Mastologia, feito em parceria com pesquisadores da Rede Goiana de Mastologia. A dificuldade de acesso a métodos de detecção e de tratamento em áreas do Norte e Nordeste do País é a principal razão apontada para a diferença.

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A pesquisa avaliou as taxas de mortalidade por esse tipo de tumor em um intervalo de dez anos, entre 2002 e 2011, em todos os Estados e relacionou os dados com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada local. Embora o Sul e Sudeste tenham taxa de mortalidade maior do que as demais regiões do País, a velocidade de crescimento das mortes pela doença é significativamente maior nas áreas mais pobres.

Maria do Rosário, que por demora do atendimento no SUS, só conseguiu iniciar o tratamento quando o tumor já estava mais avançado

De acordo com o estudo, no período analisado, a variação anual da taxa de mortalidade por câncer de mama chegou a 11,2% no Maranhão, Estado com o maior aumento porcentual e com um dos piores IDHs do País. Situação semelhante foi observada nos Estados do Piauí e Paraíba, com variações anuais de 9,8% e 9,3%.

No outro extremo, regiões mais ricas observam estabilização ou queda na variação da taxa. São Paulo, por exemplo, teve variação negativa média de 1,7% ao ano. Paraná, Rio Grande do Sul, Rio e Distrito Federal, todos Estados com IDHs altos, também tiveram queda na variação das taxas de mortalidade.

O artigo, publicado no periódico BMC Public Health, aponta como razões para os resultados a falta de recursos disponíveis para o tratamento nos Estados menos desenvolvidos e a dificuldade de acesso a esses recursos para a maioria da população.

“Em alguns casos, a situação seria comparável à encontrada na Nigéria, onde não há programas específicos de rastreamento do câncer dentro do sistema nacional de saúde e só existem dois hospitais oferecendo o tratamento terciário para a doença (radioterapia e quimioterapia)”, diz o estudo.

Para Ruffo de Freitas Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia e um dos autores do estudo, embora o sistema de saúde tenha melhorado nas últimas décadas, a estrutura ainda é insuficiente, sobretudo nas regiões mais pobres. “O crescimento ou a queda das taxas de mortalidade dependem muito das ações de saúde que estão sendo implementadas em cada local. É no Norte e Nordeste exatamente onde temos as menores coberturas mamográficas. O acesso às cirurgias e aos aparelhos de radioterapia também é mais demorado nesses locais”, diz ele.

O especialista ressalta ainda o problema da demora entre o diagnóstico e o início do tratamento. “O índice de mulheres que conseguem começar o tratamento 60 dias após o diagnóstico, como manda a lei, é de 25% a 33%. Sabemos que, em alguns lugares, essa espera chega a seis meses”, diz ele.

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