Opinião

“De estilingue a vidraça”, por Terezinha Nunes*

terezinha-nunes-psdb-peIntrigado com as vaias que, como comentarista esportivo, chegou a presenciar em jogos de futebol no Maracanã, o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues cunhou uma célebre frase até hoje repetida pelo país: “no maracanã vaia-se até minuto de silêncio”.

Talvez por isso não tenha causado tanta perplexidade as vaias dirigidas ao então presidente Lula em 2007 no mesmo Maracanã, na abertura do PAN, o que o impediu de falar na cerimônia de abertura. O fato foi repetido na abertura da Copa de 2014, também no mesmo estádio, contra a presidente Dilma.

Lula ainda se exibiu diante das câmaras. Dilma, nem isso. Foi só ser enxergada nos telões entre os presentes à tribuna de honra que a vaia correu solta. Dilma, como Lula, ficou muda.

Nessa época em que o PT perde cada vez mais adeptos em todo o país, as ruas brasileiras estão virando um maracanã, se ampliada a visão de Nelson Rodrigues.

A última vítima foi o ministro Eduardo Cardozo, vaiado na Paulista, em São Paulo, este domingo, ao entrar em uma livraria no Conjunto Nacional. Os apupos foram tantos que a livraria chegou a ser fechada para que se conseguisse conter os ânimos.

Outra vítima recente foi o destemperado líder da base do governo na Câmara, o deputado federal pernambucano Sílvio Costa. Incomodado com as críticas a ele dirigidas este sábado por moradores do prédio onde reside no Recife, o deputado revidou e , além da vaia, os moradores se recusaram a entrar junto com ele no mesmo elevador.

Embora estejam há alguns meses ensaiando o mantra de que “as manifestações fazem parte da democracia” para responder aos panelaços e afins, os petistas começam a se incomodar com a hostilidade que tem se repetido em restaurantes e até em hospitais.

“Virou moda chamar os petistas de bandidos e ladrões” – lamenta-se o ex-vereador do Recife e que já pontuou como um dos maiores líderes do PT pernambucano, Dilson Peixoto. Ele atribui isso ao fato de o partido não ter reagido aos primeiros insultos.

O ex-ministro Guido Mantega já virou freguês de vaias em restaurantes e foi o primeiro a ser hostilizado no saguão de um hospital. Mas o ex-ministro Alexandre Padilha é recordista em restaurantes. Por duas vezes, também em São Paulo, teve sua imagem exibida na Internet ouvindo xingamentos enquanto se alimentava junto com amigos e familiares.

Não à-toa o ex-presidente Lula confessou a amigos recentemente que não consegue mais frequentar restaurantes “nem em São Bernardo”, referindo-se à cidade onde mora e já foi vice-rei na época em que era líder sindical e presidente com alto índice de popularidade.

Da mesma forma que atingiu o deputado Sílvio Costa que não é petista, nenhuma liderança petista ou defensora dos governos do PT anda mais tranquila nas ruas, nos restaurantes e nos aviões. O senador Fernando Collor, de triste memória, está sendo atendido em uma sala reservada no salão de cabeleireiro Hélio Diff, no Lago Sul, em Brasília, com receio de hostilidades.

No que se refere a aviões, o ministro Miguel Rosseto foi exibido também na Internet sob vaias em um vôo de Brasília para São Paulo no final de maio. No dia 2 de fevereiro o mesmo ministro fora vaiado em um encontro da UNE e xingado de “mentiroso” por um grupo ligado ao PSOL que reclamava das reformas “neoliberais” da presidente Dilma.

Da esquerda radical à direita, o PT virou a bola da vez. E as vaias, como deixava a transparecer Nelson Rodrigues, são contagiantes. Quando começam demoram a terminar ou viram uma febre. A presidente Dilma já se precaveu. Pedala sua bicicleta à distância até dos jornalistas e atos públicos só em áreas afastadas com plateia sob controle.

Não tem sido fácil para o PT deixar de ser estilingue para virar vidraça.

* Terezinha Nunes é presidente do PSDB Mulher de Pernambuco

** Do Portal do PSDB-PE