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A líder da resistência africana. Historiadores analisam a força e o carisma da Rainha Ginga, de Angola

Aquarela mostra a rainha Ginga, de Angola, dando comandos a seu séquito de guerreiros no século XVII - Araldi de Cavazzi / Araldi de Cavazzi
Aquarela mostra a rainha Ginga, de Angola, dando comandos a seu séquito de guerreiros no século XVII - Araldi de Cavazzi / Araldi de Cavazzi

Aquarela mostra a rainha Ginga, de Angola, dando comandos a seu séquito de guerreiros no século XVII – Araldi de Cavazzi / Araldi de Cavazzi

POR RENATO GRANDELLE

25/07/2015 6:00 / ATUALIZADO 25/07/2015 8:58

RIO – Brilhante estrategista militar, inimiga dos governantes portugueses, idolatrada pelo povo, temida por maridos e cristã por conveniência. Entre uma batalha e outra no século XVII, no território da atual Angola, a rainha Ginga se tornou o pesadelo dos lusitanos. Mesmo usando o comércio de escravos para viabilizar suas manobras políticas, ela é considerada uma heroína ancestral e inspiradora do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado hoje, por sua feroz resistência ao poder europeu em terras africanas. Em Angola, o governo vem trabalhando para torná-la Patrimônio da Unesco.

Antes de se consolidar como uma dura opositora do domínio lusitano no território, Ginga Mbandi cresceu no reino de Ndongo, onde os portugueses tentavam cooptar os chefes locais seduzindo-os com presentes e ajuda militar. Logo, porém, a convivência deixou de ser harmoniosa. Os colonizadores avançaram pelo interior construindo fortes, e os líderes africanos foram obrigados a pagar tributos com escravos, que, por sua vez, podiam ser treinados como soldados ou comercializados no exterior.

A guerra, que já parecia inevitável, estourou quando um presídio foi construído próximo à Cabaça, a moradia do Ngola — o título dado ao soberano de Ngondo. Centenas de súditos foram presos, inclusive membros da família real. Derrotado, o Ngola Mbandi deixou a cidade.

— Quando o novo governador português, João Correia de Souza, assumiu o poder, encontrou Ndongo destruído, com as feiras de escravos paralisadas e as autoridades regionais insubmissas — conta Mariana Bracks, doutoranda em História Social pela USP e autora do livro “Nzinga Mbandi e as guerras de resistência em Angola” (ed. Mazza). — Os portugueses precisavam restabelecer o comércio e solicitaram uma embaixadora para negociar a paz. O Ngola nomeou sua irmã mais velha, Ginga, para este papel, porque desde pequena ela foi educada por seu pai para assuntos políticos e militares.

— Ginga pôs uma escrava de quatro e sentou-se sobre ela — conta. — Desde o início, quando houve uma tentativa dos colonialistas de submeter o povo à vassalagem, o que transpareceu foi sua postura de negociar de igual para igual.

Segundo o acordo de paz, Ndongo não pagaria tributos para Portugal. Ambos os reinos poderiam comercializar, mas como nações soberanas e independentes. Impressionado com a oratória da embaixadora, Correia de Souza ofereceu a ela um batizado cristão. Ginga aceitou e ganhou o nome Ana de Souza — o próprio governador foi seu padrinho. A partir daí, ela usaria a religião sempre que lhe proporcionasse algum benefício. Nunca abandonou as crenças de sua etnia, os mbundos.

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