Da longínqua e desconhecida Castelo do Piauí, a 190 km de Teresina, veio uma das noticias mais trágicas e dramáticas da historia recente da violência contra a mulher no Brasil, que ganhou espaço em todos os jornais e repercussão internacional: o rapto, estupro e tentativa de homicídio coletivo de quatro adolescentes. Uma delas, Danyelle Rodrigues, morreu no domingo, dia 07 de junho, depois de lutar por sua vida durante doze dias.
O cenário do crime fica ainda mais assustador – se é que isso é possível – e ganha cores mais fortes quando se sabe que os autores dessa barbárie são quatro menores, famélicos e semialfabetizados, comandados por um maior de idade, o único ainda foragido.
É a tragédia da tragédia!
É a revelação da triste realidade brasileira em que menores desamparados, desprovidos de qualquer apoio do estado, atacam menores na mesma situação politica, econômica e social.
O cotidiano da vida miserável levada pelos cerca de 18 mil habitantes da pequena cidade do interior piauiense, impactado pela brutalidade do crime cometido, nos leva a uma reflexão do país em que vivemos, e o país que queremos para nossos filhos e netos.
Segundo o relato da mídia, os menores apreendidos e transferidos para Teresina para não ser linchados pela população revoltada, são usuários de drogas, não estudam, têm passagens pela polícia e provêm de famílias que vivem do Bolsa Família.
É a falência da presença do Estado – ou melhor, a ausência dele – e de seus instrumentos de política de assistência social.
À par da brutalidade específica desse caso piauiense, as estatísticas do Brasil envergonham o país e mostram que essa realidade atinge não somente a esse estado, mas a todos os demais. Seja no Piauí, no Amazonas, Bahia, Mato Grosso ou Rio Grande do Sul, não há segurança e nem política pública séria para combater estupradores.
Recentemente, em Brasília, capital da República, a população acompanhou estupefata a demora das autoridades judiciárias e policiais em prender um contumaz agressor sexual de mulheres no campus da Universidade de Brasília – detido apenas após cometer o terceiro crime seguido!
Para se ter uma ideia do drama nacional, em 2013 ocorreram cerca de 50 mil casos de estupros registrados pela polícia em todo o território nacional, segundo dados do 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Nos últimos anos, até por conta do aumento do número de registros, as taxas de estupros subiram de 22,1 casos por 100 mil habitantes para 26,1 casos por 100 habitantes,entre 2011 e 2012, com uma redução para 25/100 em 2013. Porém, as estatísticas também indicam que pelo menos 35% dos casos não são registrados pela vítima – ou seja, pode-se estimar que hajam cerca de 140 mil estupros anuais no Brasil.
São números assustadores e que se tornam ainda mais trágicos quando revestidos de dramas como os ocorridos em Castelo do Piauí. Aquela noite terrível, em que diversas facetas da perversa realidade social brasileira – menores pobres, carentes, criminosos que atacam vítimas menores, carentes – se uniram em um cenário dantesco para nos incomodar e indignar ainda mais.
Castelo do Piauí é o Brasil de todos nós!
*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB