Opinião

“Tirando o sofá da sala”, por Terezinha Nunes

TN-021213É conhecida a piada sobre a postura de um pai severo que, ao concluir que a filha poderia, na ausência de familiares, utilizar o sofá de sua casa para praticar “intimidades” com o namorado, decidiu tirar o sofá da sala. Imaginava, ingenuamente, que era o sofá o responsável pela fogosidade da moça. Deu com os burros n`água.

Mesma postura adotou o PT ao anunciar, em alto e bom som, que, para evitar os malfeitos que envolveram figuras de alto coturno do partido, decidiu não mais aceitar as “doações” de empresas privadas ao seu caixa. E tornou oficial a tese do financiamento público de campanhas que vinha amadurecendo nos últimos meses.

Não é de hoje que o partido, quando pego na contramão, tenta primeiro negar o delito, em seguida jura a inocência dos seus filiados, defende-os e os protege até que a justiça prova o envolvimento dos mesmos. Aí se tenta criar novos artifícios para encobrir o que salta aos olhos.

Como no caso do mensalão as manobras renderam a postergação do caso, o que possibilitou a reeleição de Lula e a conquista de dois mandatos pela presidente Dilma, o PT continua batendo na mesma tecla.

É difícil, porém, que consiga com mais esta postura de defesa fugir às cobranças da sociedade que, ao contrário da época do mensalão, está indo às ruas contra a corrupção e a incompetência governamental que jogou o país num patamar de crises jamais visto: econômica, política, hídrica e social. Um verdadeiro barril de pólvora.

Não resta dúvida de que o financiamento público de campanha é uma tese a ser debatida mas quem garante que ela impedirá quem quer que seja de continuar praticando delitos?

O problema não está no financiamento privado, como de forma divercionista prega o partido. O problema é que o PT oficializou algo diferente. Criou o financiamento privado com recursos públicos – via pagamento de propina – e, de forma impensável, passou a receber somas astronômicas do esquema da Petrobrás, por exemplo, até mesmo em anos não eleitorais. Seu último tesoureiro preso, João Vaccari, conseguiu arrecadar para o partido R$ 11, 2 milhões em 2009 e R$ 80 milhões em 2013, dois anos em que não houve eleição, como denunciou o jornal O Globo.

Utilizou-se largamente a máquina pública, com ou sem eleição, para, via empresas privadas, sustentar a pujança da legenda.

No auge do mensalão, inclusive, o então presidente Lula chegou a confessar um delito para se livrar das cobranças da imprensa em uma viagem a Paris. Disse que o PT não tinha feito nada mais do que utilizar o “caixa dois”. Em linguagem rala, Lula afirmou que o seu partido tinha “apenas” recebido recursos por fora dos controles da Justiça Eleitoral. Um escândalo em qualquer país respeitável. Aqui essa confissão não deu em nada.

Com dois tesoureiros envolvidos em escândalos seguidos e todos dois respondendo à justiça pelos malfeitos, o PT vai deixar realmente de lado os recursos de empresas privadas ou o fará apenas oficialmente, continuando com o “caixa dois” defendido por Lula ?

É pagar pra ver. No momento o partido parece apenas imitar o pai valente que, com sua arrogância, não conseguiu evitar que a filha continuasse seduzindo o namorado. Agora não mais sentada no sofá mas em pé mesmo.