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Entrevista: Patrícia Bezerra fala dos projetos em defesa do direito materno e sobre ser mulher na política

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Foto: Divulgação

Vereadora pelo PSDB SP, Patrícia Bezerra foi a única mulher eleita na Câmara de São Paulo nos último pleito. Sua atuação se define pela defesa dos direitos humanos e assume um protagonismo feminino no parlamento municipal paulista em favor dos direitos da mulher, da infância e adolescência, assim como da igualdade entre gêneros na política, na sociedade, conforme ela mesma descreve nesta entrevista ao site do PSDB-Mulher SP. Depois de abraçar a causa do direito materno e ter dois relevantes projetos aprovados, Parto sem dor e o que prevê multa para quem constranger mães que amamentam em locais públicos, Patrícia ganhou a mídia num debate que envolve as ações de curto prazo, como as medidas legais para assegurar os direitos da mulher, e a conscientização da sociedade para que a mulher possa exercê-los em harmonia.  

 

PSDB Mulher SP –  Este é o segundo projeto de sua autoria sobre direito materno em São Paulo. É um tema que carece de políticas e atenção, o que a motiva a abraçar esta causa?

Patrícia Bezerra – Antes da vida pública, eu trabalhava com elaboração de projetos sociais para comunidades carentes e pude perceber o quão difícil era a vida das mulheres daqueles bairros. Algumas tinham muitos filhos, serviços em que trabalhavam horas a fio com salários muito baixos e pouquíssimo tempo para se dedicar a funções domésticas. Por falta de recursos ou tempo de ir a hospitais, muitas delas não faziam pré-natal e suas gestações eram complicadas. Isso tudo despertou em mim a vontade de lutar pelos direitos dessas mulheres. Além disso, ao tratar sobre direito materno, consigo atingir duas demandas de nossa cidade ao mesmo tempo: lutar pelos direitos da mulher e pelos direitos da criança, justamente num momento em que ambos necessitam de atenção e cuidados especiais.

PSDB Mulher SP – O projeto levantou algumas polêmicas porque há uma corrente que defende a conscientização pela educação, campanhas. Acha que a multa é mais eficaz? Por que?

Patrícia Bezerra – Eu também sou a favor da conscientização por meio de campanhas. Mas, infelizmente, quando não há uma espécie de punição, ou reforço negativo, – digo como psicóloga que sou -, os resultados são pouco satisfatórios. Como concordar com a atitude de uma pessoa que orienta uma mãe a amamentar em um banheiro para não fazê-lo em público? Não há local mais insalubre para alimentar um bebê do que esse. As desculpas são inúmeras, mas a mudança de consciência e de cultura devem ser rápidas. Crianças e a gestantes podem ser penalizadas por um olhar distorcido de quem vê o ato de amamentar como algo chocante ou sexy.

 PSDB-Mulher SP –  As mulheres, sobretudo as mães chefes de família estão expostas a uma realidade difícil em todo o Brasil. Precisam de acesso ao mercado de trabalho, remuneração justa, creches, proteção contra a violência que enfrentam em casa e nas ruas. No seu mandato, as políticas de gênero são prioritárias? 

 Patrícia Bezerra – Como disse, por conhecer a difícil realidade de mulheres da periferia, sempre procurei priorizar políticas de gênero em meu mandato. Além do Parto sem Dor, e do projeto da amamentação, propus medida que trata sobre os 10 passos indicados pela Organização Mundial de Saúde para o aleitamento materno. Também milito no combate ao Câncer de Mama, maior causa de morte feminina no mundo, com projetos de prevenção.  Fora isso, mensalmente ministro palestras sobre saúde emocional para mulheres. Em meu mandato, quero proporcionar voz e vez às mulheres.

 PSDB-Mulher SP –  O projeto Parto sem dor foi implantado na saúde pública municipal tem que resultados hoje? 

 Patrícia Bezerra – A lei, com certeza, terá resultados significativos, pois implantou uma opção inexistente para a parturiente do SUS. E, hoje, sabemos que muitas mulheres não optam pelo parto natural pelo medo da dor, mesmo, de fato, querendo escolher essa modalidade. A medida é autoregulamentável, o que demanda um pouco mais de tempo para que possamos avaliar os resultados. Já possuo um calendário de visitas a hospitais e maternidades públicas para avaliar os resultados e averiguar se todos os hospitais estão dando a opção da anestesia e dos métodos para alívio da dor preconizados na Lei.

PSDB-Mulher SP – Sobre as mulheres na política, sente que enfrenta dificuldades por ser mulher no parlamento? Quais?

Patrícia Bezerra – Com certeza enfrentamos. E não apenas no parlamento. O sexismo é um problema cultural que afeta a mulher em qualquer ocupação que venha pleitear ou ocupar. É quase tido como “óbvio” que uma mulher receba um salário 30%, 40% menor que um homem que está exatamente no mesmo nível de qualificação, exigência e posto. Isso, porque se parte de um princípio patriarcal onde o homem é o responsável por “chefiar” a família e, por essa razão, deve ganhar mais. Já se sabe que hoje, principalmente nas camadas mais pobres da sociedade, cerca 40% famílias brasileiras têm mulheres mantenedoras do lar. Por essa razão, aquele argumento antiquado e preconceituoso não mais se sustenta. No que diz respeito à prática política, diria que a maior dificuldade é ser vista como igual. É lamentável usar esse termo, porque pressupõe uma avaliação sempre para baixo da competência feminina, mas ocorre. Pela simples distinção de gênero, muitas vezes – e de fato são muitas! Somos tratadas como “cafés com leite” na temática da política, que, originalmente, seria dominado pelo sexo oposto. Essas questões estão muito ligadas ao universo masculino, sua relação com o poder e às implicações psicanalíticas dessa relação. Aliás, é muito interessante observar como algumas mulheres – no início do poder – se masculinizam. Infelizmente, isso se dá pela crença de que o poder é prerrogativa masculina e não de ambos os sexos.

PSDB-Mulher SP – A ONU Mulheres coloca agora novas metas para a igualdade entre homens e mulheres no mundo, depois de Beijing. Porém, a violência ainda parece persistir em todo o planeta, impedindo a igualdade de fato. Pode opinar sobre isto?

Patrícia Bezerra –  A violência só terá fim quando as mulheres tiverem autonomia para se libertarem dela. Isso implica em independência emocional e financeira, fortalecimento de autoestima, valorização da mulher no mercado de trabalho – através da remuneração digna e justa por sua competência, além de políticas públicas que propiciem condições de manter seus filhos em ambientes seguros para que possam exercer suas funções. É preciso mudança de cultura em relação à divisão das tarefas com o parceiro que também é responsável por manter um espírito de cooperação familiar.

Fonte: Imprensa PSDB-Mulher/SP