Opinião

“Agonizante”, por Cristina Lopes Afonso

dracristina_fotoA saúde de Goiânia está em estado grave. Esse é o diagnóstico feito a partir das impressões colhidas entre os dias 19 e 23 de janeiro de 2015, por mim e o vereador Fabio Lima (PRTB), em 15 unidades de saúde municipais, que prestam uma série de atendimentos pelo SUS, incluindo Cais, Ciams e Upa. Fomos acompanhados por moradores e representantes de organizações não governamentais e uma equipe da TV Câmara, que documentou as visitas.

O objetivo foi fazer uma espécie de radiografia da situação da rede de atendimento básico de saúde no município e buscar soluções para os problemas junto aos órgãos públicos.

Pudemos ver in loco que a saúde passa por um momento delicado. As falhas são inúmeras e é preciso concentrar esforços e viabilizar um atendimento mais eficiente para a população.

Entre os principais problemas detectados estão: obras e ampliações paralisadas ou em ritmo lento, necessidade de reparos e reformas, promessas não consolidadas de transformação de cais em Upas, falta de remédios e insumos, falta de conforto e orientação aos pacientes, déficit de médicos e outros profissionais e condições de trabalho insatisfatórias.

A falta de médicos para completar as escalas, especialmente nos plantões, parece ter sido amenizada, se comparada à crise que se estendeu nos últimos dois anos. Mas o problema persiste como relatado abaixo:

– Ciams do Jardim América e  nos Cais do Jardim Curitiba, Jardim Guanabara, Cândida de Moraes, Jardim das Amendoeiras e de Campinas, onde ainda há horários em que a quantidade de médicos é insuficiente, segundo a direção e os próprios pacientes.

– Em todas as unidades, diretores e pacientes reclamam da falta de pediatras e da extinção do cargo de diretor administrativo e da falta de fisioterapeutas;

– No Cais do Novo Horizonte, equipe reconhece que faltam especialistas em algumas áreas em que há demanda: cardiologia, nefrologia, endocrinologia e otorrinolaringologia.

– Na UPA do Jardim Itaipu, seis leitos de internação foram desativados por falta de profissionais.

– No Ciams do Jardim América falta farmacêutico em um dos turnos.

– No Cais do Jardim Curitiba faltam também técnicos de enfermagem e servidores administrativos.

Atualmente o déficit de médicos no município gira em torno de 150 profissionais. Tudo indica que trabalhar para o município não é exatamente o emprego dos sonhos. Além da baixa remuneração, a categoria reclama das péssimas condições de trabalho nas unidades municipais, com relatos de violência por parte dos usuários e acompanhantes, carência de material de trabalho, falta de estrutura básica e até medicamentos.

De fato, em todas as unidades as prateleiras das farmácias estão vazias e servidores relatam que faltam remédios básicos, em alguns casos até dipirona sódica e antibióticos orais e injetáveis. No cais da Chácara do Governador, há apenas metade dos medicamentos fornecidos pelo sistema SUS. Situação mais grave foi encontrada no Ambulatório Municipal de Queimaduras do Ciams do Setor Pedro Ludovico, onde todos os servidores, inclusive médicos, estavam parados porque faltavam pomadas e todo tipo de insumos para curativos, apesar do pedido de fornecimento já feito pela direção ao município.

Nas nossas visitas também encontramos casos mais graves como o Cais do Setor Urias Magalhães, que está fechado para reforma há mais de um ano, depois de ter sido interditado pelo Corpo de Bombeiros por risco de desabamento.  Não há operários no local e o cenário é de abandono, com lixo, marcas de vandalismo e restos de construção espalhados. Antes, a unidade contava com ambulatório e emergência 24 horas. Com o fechamento do cais, outras unidades das regiões Norte e Nordeste da capital ficam sobrecarregadas.

No Jardim Curitiba, anexo ao cais que tem estrutura precária, está sendo erguida uma Unidade de Pronto Atendimento para melhorar a qualidade dos serviços. Mas, segundo a placa de especificações técnicas, a obra, que se arrasta desde 2003, já deveria estar pronta há mais de um ano. A UPA foi orçada em mais de R$ 3,5 milhões e poucos operários trabalham no local.

Todas as 15 unidades visitadas precisam de manutenção, o que inclui pequenos reparos no sistema hidráulico e elétrico, no telhado, em infiltrações e em aparelhos de ar condicionado, além da substituição de lâmpadas e vidraças e limpeza de área externa. Os diretores alegam que já solicitaram os serviços à Prefeitura e reclamam de demora para a solução.

Como vimos, o estado da saúde em Goiânia é grave. Atendimento de saúde é um direito básico do cidadão, garantido pela Constituição, e todos os esforços são necessários para garantir seu total cumprimento. A fragilidade do sistema tem consequências severas para os cidadãos que não podem contar com o serviço público no difícil momento que é a doença. Desculpas e empurra-empurra de responsabilidades não vão restabelecer o funcionamento integral do sistema. A saúde está agonizando e os doentes têm direito a assistência de qualidade. É preciso tirar a saúde da UTI.

*Cristina Lopes Afonso é vereadora (PSDB) e presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara de Vereadores de Goiânia