No mês passado, a atual Presidente da República tornou 24 de fevereiro o Dia da Conquista do Voto Feminino no Brasil, inserindo-o no calendário oficial de eventos a serem celebrados.
Nada mais justo que comemorar o direito de voto das mulheres, conquistado há 83 anos, ainda no primeiro governo de Getúlio Vargas, mas que ainda se revela insuficiente para transformar a realidade política, econômica e social do país.
E, menos ainda, para mudar o triste e trágico cotidiano das 103.685.000 milhões de brasileiras que diariamente enfrentam o preconceito, a discriminação e a violência crescente, sem que o poder público disponibilize políticas públicas federais para atender à suas demandas.
Somos maioria da população brasileira, a maioria do eleitorado, e responsáveis pelo sustento solitário de cerca de 40% dos lares nacionais. Nada mais justo que fossemos, 83 anos depois, parcela igualmente expressiva na política nacional.
Já conquistamos muito, precisamos avançar mais. Se nossa participação na vida pública refletisse de maneira mais justa nossa presença na vida econômica e social brasileira, talvez a vida de nossas irmãs estivesse menos sofrida.
Quem sabe leis mais duras tirassem do Brasil a vergonhosa marca de país em que um estupro acontece a cada quatro minutos. Leis pensadas por homens, que não passam pelo que enfrentou a estudante de medicina de Ribeirão Preto, em agosto de 2014.
A jornada é longa, os percalços parecem insuperáveis, mas no Brasil e no mundo de hoje já há uma intensa conscientização de que não se pode mais conviver com esse quadro discriminatório e abusivo contra as mulheres.
Ainda recorrendo a exemplos recentes, a atriz Patrícia Arquette e seu protesto contra a discriminação salarial nos EUA e por direitos de gêneros iguais na entrega do Oscar servem de estímulo, até porque reproduzido em todo o mundo.
Mas, imaginem se ela vivesse no Brasil, onde homens recebem em média, 30% a mais do que mulheres, com a mesma idade e nível de instrução, segundo estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento!
Portanto, a comemoração do Dia do Voto Feminino nesse 24 de fevereiro deve ser, necessariamente, acompanhada de uma reflexão sobre toda essa massacrante realidade das mulheres brasileiras.
Só com muita disposição, com muita determinação e conscientização conseguiremos mudar essa triste realidade nacional.
*Thelma de Oliveira é vice-presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB