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“Mudez seletiva”, por Thelma de Oliveira

Charge: Cabral/PSDB

Charge: Cabral/PSDB

Há alguns dias a ministra da Saúde da Espanha, Ana Mato, apresentou sua demissão do cargo horas após haver sido citada, por associação, a um escândalo envolvendo seu marido.

No Brasil, dois irmãos do atual ministro da Agricultura, são acusados de fraude pela Polícia Federal e têm mandados de prisão expedidos contras eles. Neri Geller pediu demissão? Não, está no exterior, representando o vice-presidente da República em missão oficial e mandou dizer em nota que confia na inocência dos irmãos. A presidente Dilma se cala.

Após o segundo turno eleitoral, o Petrolão assume um tamanho que choca a população e ultrapassa fronteiras, levando El País e The New York Times, entre outros, a dizer que a Petrobras é o maior escândalo financeiro da história o que, se levarmos em conta os 12.000 anos que nos separam do início da evolução humana, não é pouco.

Dilma, mais uma vez, calou-se por um bom tempo e, quando veio a público, disse que não se podia demonizar as empreiteiras envolvidas e que seu governo investigava tudo, como se não tentasse intimidar a Polícia Federal e atrapalhar as operações o tempo todo. Detalhe, o discurso delirante foi em plena reunião do G-20, reunião das 20 maiores economias do mundo, para que o vexame fosse completo.

Nem sempre a presidente da República foi tão fugidia. Nos meses que antecederam a campanha eleitoral e durante a mesma, Dilma Rousseff era figurinha fácil nas televisões, rádios e jornais do país inteiro. Só faltou irradiar jogo de futebol e ser madrinha de batizado de boneca.

Em todas as entrevistas que concedeu, usando descaradamente as dependências oficiais da Presidência – crime eleitoral, diga-se de passagem – Dilma afirmou que o Brasil estava muito bem e que se o candidato adversário, senador Aécio Neves fosse eleito, a economia iria ser entregue aos banqueiros, os juros subiriam, a gasolina aumentaria e a comida, desapareceria do prato dos brasileiros. Resumindo: o Brasil acabaria, levando com ele o Bolsa Família.

Acho que Aécio Neves ganhou porque, passadas as eleições, na verdade dois dias após o segundo turno, tudo o que foi dito aconteceu!

Na quinta-feira (27) veio o último toque – a cereja do bolo! -, na forma do anúncio da equipe econômica do novo governo velho da presidente. O futuro ministro da Fazenda, vejam só, foi aluno de Armínio Fraga, o mesmo Armínio Fraga execrado durante toda a campanha chapa-branca!

Ainda mais estarrecedor, para usar uma palavra tão cara à presidente, é que Joaquim Levy, o novo ministro, seja banqueiro, e tenha saído do Bradesco para socorrer Dilma no momento em que a economia do país enfrenta seu pior momento desde a criação do Plano real, no governo de Fernando Henrique Cardoso.

O Brasil enfrenta, simultaneamente, a queda de confiança dos investidores internacionais, estupefatos com a investigação do caso pelos Estados Unidos e Holanda, e a estagnação interna, com alta de inflação e PIB em queda. Esperamos que Levy tenha autonomia para fazer o que for necessário. A ausência de Dilma e seu silencio sobre a posse da equipe não são bom sinal.

Fica a pergunta mais importante: como confiar em uma presidente que não honra o que diz; fala o que não pretende fazer e se omite, quando deve vir a público, dar explicações aos que nela acreditaram? Como funciona um país, quando o povo não acredita mais em quem o governa?

*Thelma de Oliveira, vice-presidente do Secretariado Nacional da Mulher