Opinião

“Até quando perderemos Loanes?”, por Thelma de Oliveira

Foto: Gláucia Beatriz
Foto: Gláucia Beatriz

Foto: Gláucia Beatriz

Já reproduzimos aqui as dificuldades que milhares de brasileiras agredidas anualmente enfrentam, quando procuram apoio do Estado, especialmente nas Delegacias Especializadas no Atendimento da Mulher, as DEAMs.

Já se falou que são poucas delegacias, insuficientes para a quantidade de mulheres que diariamente sofrem agressões descabidas de maridos, ex-maridos, namorados e ex-namorados.

Já se disse que as DEAMs, em sua maioria, não possuem pessoal qualificado, especializado no atendimento a mulheres agredidas. Ou profissionais de diferentes especialidades para tornar o atendimento mais humano, multidisciplinar, e com os olhos voltados para a vítima, não para o agressor.

Tudo isso já foi dito, mas as palavras mudaram pouco essa realidade, tão cruel e injusta com as agredidas, carente da ausência do Estado, de sua omissão na prevenção e repressão ao homem agressor.

Símbolo dessa completa omissão governamental ocorreu na distante cidade de Caxias, interior maranhense, com o hediondo assassinato da escrivã Loane Maranhão Thé,  de 33 anos, morta ao colher o depoimento de um agressor, um estuprador de suas próprias filhas menores, dentro de uma delegacia da Mulher.

É um absurdo!

É uma afronta à dignidade da mulher brasileira!

É revoltante assistir a tanta desfaçatez, tanto descaso e falta de segurança com as mulheres.

Esse fato revela que, no Brasil, a realidade supera qualquer peça de ficção.

Como imaginar que uma mulher, trabalhando em uma delegacia especializada, ouvindo o depoimento de um agressor, pudesse perder a vida?

Nem o mais criativo roteirista conseguiria imaginar essa cena.Infelizmente não se trata de ficção e sim da brutal realidade da mulher brasileira e da omissão do Poder Público.

O caso de Loane é o mesmo de milhares de brasileiras, infelizmente. E se torna emblemático, pelas circunstâncias em que ocorreu.

Não basta, agora, rever as normas de segurança internas das DEAMs ou divulgar notas de repúdio, como fizeram o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR).

É preciso ação, determinação política do Governo Federal para rever esse quadro, que pesa sob o ombro de cada uma de nós, ao vermos tantas mulheres abandonadas pelo Poder Público.

Até quando veremos Loanes serem mortas sem que nada aconteça?