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“Pessoas com deficiência precisam se candidatar, conquistar espaço na política para mudar situações injustas”

Tereza NelmaA nordestina Tereza Nelma acima de tudo é uma forte. Detentora de uma trajetória impecável, na busca por melhores condições de vida para os deficientes e por educação de qualidade, a vereadora abriu um espaço em sua agenda e topou conversar um pouco com o site do PSDB Mulher Nacional.

Pingue-pongue com a vereadora Tereza Nelma, do PSDB de Alagoas:

PSDB Mulher Nacional – Você é presidente da Comissão Permanente de Educação, Cultura, Turismo e Esporte da Câmara de Vereadores. Como anda o cenário cultural de Maceió, cidade conhecida no século passado por abrigar intelectuais de peso nacional como Nise da Silveira, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Aurélio Buarque de Holanda, entre outros?

Tereza Nelma – Quero lembrar que esse Estado pequenino e pobre tem alguns talentos nacionais contemporâneos, como o Djavan, não é? Neste século XXI, passamos os últimos oito anos com uma administração municipal que relegou a segundo plano os problemas sociais e culturais da capital, como se fossem supérfluos. Estive sempre na oposição, às vezes sozinha. Agora, na gestão tucana do jovem Rui Palmeira, tanto a cultura como a assistência social estão sendo dinamizadas. Já sentimos os efeitos benéficos na autoestima da cidade.

PSDB Mulher Nacional –  Ser deficiente físico no Brasil é ser alijado de direitos básicos, como acesso à mobilidade e inclusão urbana. Maceió é uma cidade amigável, para eles?

Tereza Nelma – Acho que os deficientes físicos são, regra geral, os que têm mais facilidades de integração, pois seus sentidos estão preservados. Os outros deficientes – intelectuais, surdos, cegos, além de algumas síndromes, como o autismo – encontram muito mais dificuldades. Maceió é uma cidade com imensas contradições. Tem a parte rica, confortável, por onde os turistas circulam. E a parte pobre, da periferia, das grotas. A pobreza costuma gerar mais deficiências e injustiças. Para esses, a amizade da cidade precisa melhorar muito. Mas existem associações, como a Pestalozzi de Maceió e outras, que prestam atendimentos a todos e a todas, com muito amor, sem qualquer discriminação. E, nesse processo, damos uma ênfase grande à parte cultural, com banda de percussão, ballet, coral, capoeira, teatro, sem contar a parte esportiva. Aí já recebemos vários prêmios.

PSDB Mulher Nacional – Os partidos políticos já tem consciência das realidades das pessoas com deficiência?

Tereza Nelma – Infelizmente, só agora os partidos políticos estão reconhecendo a cidadania das pessoas com deficiências. Mas é forte, ainda, a prática da troca de votos por favores. São os restos das políticas de caridade. Enfrento isso todo dia, alertando a todos que a questão é de direito. E as pessoas com deficiência estão compreendendo, cada vez mais, que precisam se candidatar, conquistar espaços também na política para mudar essas situações injustas. Espero que o PSDB incorpore essa prática.

PSDB Mulher Nacional – Você é professora e psicóloga com especialização em Educação Especial. O que a levou a escolher essa área, numa época em que as pessoas com deficiências eram vítimas de preconceito?

Tereza Nelma – Eu encontrei minha realização pessoal na habilitação, no ensino e na inclusão cultural, econômica, política e social das pessoas com deficiência. Faço isso há cerca de 30 anos. Ainda existe preconceito, mas superamos as velhas práticas da caridade e da esmola, que aviltam o ser humano. Hoje, grande parte das famílias tem consciência de seus direitos e de seus filhos, vão a qualquer lugar com eles. Isso foi possível com a criação de associações de defesa de pessoas com deficiência, que promovem a luta por direitos humanos. Ajudei a criar e apoio todas elas. Também liderei o processo de transformação da Associação Pestalozzi de Maceió, hoje a maior do Nordeste, e a única entre todas as Pestalozzi do Brasil a ser qualificada com o padrão CER 4 (Centro Especializado em Reabilitação) pelo Ministério da Saúde. Para isso, adotamos os padrões de gestão do Terceiro Setor e valorizamos cada ser humano como cidadão, que tem seus direitos constitucionais. Foram essas associações que tiraram das ruas, do abandono, as crianças e jovens com deficiência, pelo menos em Maceió.

PSDB Mulher Nacional – O que falta melhorar na educação pública brasileira?

Tereza Nelma – O Brasil tem ótimas escolas públicas, e péssimas, também. Se considerarmos o ensino superior, as melhores universidades são públicas, como as universidades de São Paulo e Campinas. Também não há melhor ensino médio do que o ministrado pelas antigas Escolas Técnicas, públicas. Infelizmente, o ensino público de qualidade foi apropriado pela elite. E as escolas públicas fundamentais da periferia, dos municípios e dos Estados pobres são muito inferiores às escolas públicas situadas em regiões ricas. Assim, o melhor que poderíamos fazer é universalizar o melhor ensino público, para todos e para todas. Temos que garantir a permanência e o acesso do povo ao ensino de qualidade, em todos os níveis.

PSDB Mulher Nacional – Fale um pouco sobre sua experiência de mulher nordestina na política. Existe discriminação?

Tereza Nelma – Cheguei à política partidária pelo caminho das lutas sociais e da conquista do voto. E não esqueci o caminho de volta. Estou na Câmara para representar os que mais precisam. Não fico apenas fazendo discurso, mas estou em sintonia permanente com o social. Isso não é fácil no Nordeste, onde a mulher é ainda muito discriminada. No entanto, não podemos parar no choradinho antigo, mas sim exigir o cumprimento dos direitos. Dou um exemplo: quando assumi na Câmara de Vereadores apresentei um projeto de emenda da Lei Orgânica para garantir a participação da mulher na Mesa Diretora da Câmara. Meu projeto desapareceu durante quase um ano. Insisti, voltou à discussão e venceu. Na primeira eleição de Mesa após a aprovação, fizeram uma chapa do Bolinha, sem nenhuma mulher, desconhecendo a mudança. A chapa teve que ser refeita. Agora nenhum vereador fala mais em eleição da Mesa Diretora sem a participação da mulher. Podemos fazer uma politica diferente, desde que a gente não repita os ultrapassados paradigmas das mulheres representantes de maridos ou do “primeiro damismo”. Temos que representar a sociedade. Aí somos reconhecidas e conquistamos a confiança.