Opinião

“O fator Lyra”, por Terezinha Nunes

Terezinha-Nunes-Foto-George-Gianni-Na prática política há algumas máximas respeitadas à risca pelos que pretendem ficar muito tempo em atividade. Uma delas é a de que “é preciso engolir sapos”, aceitando sem espernear situações que não podem ser contornadas.

Outra é a de que é necessário saber administrar o tempo e – a mais sábia de todas elas – a de que é preciso falar nos momentos adequados mas, sobretudo, preservar o silêncio quando o ambiente está conturbado, não justificando manifestações.

Um dos mais sábios políticos brasileiros do século passado passou por todos estes testes com louvor: o ex-presidente Tancredo Neves. Raramente falava. Sua capacidade de ouvir e fazer silêncio era tanta que seus ouvidos, segundo correligionários, funcionavam como dutos, as informações entravam por um e saíam pelo outro. Ele só processava o que valia a pena. O resto perdia-se nos desvãos.

Pernambuco passará a ser governado a partir de abril por um político que segue à risca essas máximas, adicionando outra também importante à sua atividade: o respeito e o bom entendimento com os adversários. É o vice-governador João Lyra Neto, natural de Caruaru, e, por duas vezes, vice leal e fiel ao atual governador Eduardo Campos.

É conhecida de todos a capacidade do atual governador de juntar apoios na Assembleia tendo reduzido a oposição a menos de 20% dos deputados mas, pelo andar da carruagem, João Lyra vai mais além. Até agora nenhum deputado publicamente faz-lhe restrições. Só se ouve de todos os parlamentares elogios à sua conduta e a certeza de que, como democrata, apoiará in totun os candidatos da Frente Popular mas respeitará também in totun seus adversários.

Filho de um político respeitado de Caruaru e Pernambuco, do qual herdou o nome e oriundo de uma família que – como muitas na sua região – exercem ao mesmo tempo atividades políticas e empresariais, João Lyra Neto, ao contrário do irmão Fernando, demorou a entrar na política, sendo deslocado para o ramo dos negócios.

Talvez por isso tenha aprendido a administrar a tolerância bem mais do que Fernando que tornou-se um dos nossos mais competentes e respeitáveis tribunos pernambucanos e brasileiros fuzilando,com sua voz estridente, os adversários e arrastando entusiasmadas plateias aos comícios de que participava.

Depois que resolveu se candidatar, com a aposentadoria do pai, João Lyra Neto foi presidente do MDB de Caruaru, deputado estadual e líder do governo Arraes e, por duas vezes, prefeito de Caruaru. Só se tem notícia de embates mais fortes por ele orquestrados durante as disputa municipal na qual é impossível fugir às discussões mais duras mas nada que o impedisse de, em momentos adequados, sentar à mesa com todos.

Administrou com tranquilidade e silêncio a passagem do primeiro para o segundo mandato do governador Eduardo Campos quando adversários de dentro do Governo queriam tomar seu lugar de vice. Recentemente não deu uma palavra sobre a sucessão atual. Lutou bravamente nos bastidores para ser candidato à reeleição porém nunca dele se ouviu qualquer declaração sobre o assunto.

Quando todos esperavam que fosse se rebelar “engoliu o sapo” e já apoia com tranquilidade a chapaescolhida. Num ano em que Pernambuco pode sofrer turbulências por conta do embate local e nacional entre o PT e o PSB é importante que Lyra se encontre na condução do estado ouvindo a todos.
* Terezinha Nunes é deputada estadual e presidente do Instituto Teotônio Vilela, seção Pernambuco