O social e o econômico foram discutidos por grandes cabeças femininas, pensantes e atuantes no país nas últimas décadas, no encerramento do curso Empoderamento Político para Mulheres. A iniciativa, promoção do PSDB-Mulher RJ, em parceria com a Fundação Konrad Adenauer do Brasil, ocorreu na última semana, no Rio de Janeiro.
O painel “Planejamento de Políticas Sociais e Econômicas no Brasil” contou com a economista, advogada e professora da FGV, Elena Landau, com a doutora em Educação e ex-ministra da Secretaria de Políticas Sociais, Wanda Engel, e a economista, ex-ministra do Planejamento e ex-governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, além da moderação da tesoureira do PSDB-RJ, Lurdinha Henriques, e da presença da presidente do PSDB-Mulher Nacional, Solange Jurema.
Wanda Engels, que participou do governo Fernando Henrique Cardoso, contou da oportunidade de trabalhar com a ex-primeira-dama D. Ruth Cardoso no Comunidade Solidária, cujo primeiro momento foi de distribuição de cestas básicas. Segundo Wanda, como não havia cadastro único no país, D. Ruth deu a ideia de vincular a entrega às escolas, surgindo assim a primeira experiência do que viraria o programa Bolsa-Escola, o primeiro de transferência de renda no Brasil. “Ainda no primeiro mandato houve a extinção da LBA, e as políticas sociais foram retiradas daquela ‘coisa de primeira dama’ e colocadas no âmbito das políticas públicas.”
Nessa época foi implantado também o primeiro programa de erradicação ao trabalho infantil, além de projetos voltados ao primeiro emprego para os jovens. “A assistência é o primeiro patamar de qualquer coisa, porque dá as condições para o desenvolvimento. O problema é ficar só aí. Ela tem que ficar ligada às políticas de desenvolvimento humano. A proteção social dá as condições de promover desenvolvimento humano e social, que levam ao desenvolvimento econômico, que por sua vez dá capacidades que levam às oportunidades, gerando um circulo virtuoso”, afirmou Wanda.
Elena Landau que, segundo ela, estava participando do primeiro evento especificamente feminino, comentou que quando se olha para a história econômica brasileira, até o Real, havia que se recear, porque a inflação é a pior das aflições. “Na faculdade o desafio era desenvolver um sistema para superar a inflação, e quebrar a política recessiva do Delfim Neto. Quando Fernando Henrique teve a oportunidade de fazer, ainda no governo Itamar, um processo que até hoje dá orgulho aos que participaram, diziam que não ia funcionar, mas a adesão da população ao plano foi impressionante”, contou.
Para a economista, quando o país vive um processo regressivo e de inflação como o que viveu antes da era do Real, não há energia para política social. “A mulher, dona de casa, só pensa no que vai fazer para conseguir chegar amanhã. Tivemos a sorte de ter no comando uma pessoa como D. Ruth. Não precisamos discutir quem fez o quê e onde tudo começou. Desde 93 vimos num caminho em prol do desenvolvimento econômico e social. Não podemos ignorar a importância do Bolsa-Família, mas talvez fizéssemos diferente, com condicionantes”, disse Elena.
Sobre a inflação ela comentou que o objetivo deveria ser de 4,5%, e que o índice de 6,5%, que o PT afirma estar dentro da normalidade, é na verdade um limite de tolerância. “A política de salario mínimo importa para a política social, mas amarra os resultados às transferências, e temos que estar sempre alerta para a volta da inflação. Essa é uma política fiscal irresponsável, estamos com problema geracional e dificuldade para fechar as contas públicas, usando dinheiro do futuro para pagar as contas no presente”, afirmou. Ela citou ainda o leilão do pré-sal, que vinculou a educação e a saúde ao bônus, que vai ser pago pela própria Petrobras. O que a gente enxerga é que esgotou a política de transferência, precisamos de uma política de acesso aos entendidos. Saíram da miséria, acham que melhoraram de vida mas continuam sem escola, sem creche, sem atendimento médico”, disse Elena.
Yeda falou das dificuldades que as mulheres enfrentam na política. “Ao longo da vida passamos por períodos de dificuldades e estresse, e de vez em quando pedem pra gente parar. Na política de hoje o pensamento é ‘como eu vou me servir?’, e não ‘como vou servir quando chegar lá?’. Mesmo na igualdade constituída nunca aconteceu a solidariedade entre as mulheres, ela foi construída socialmente. Os símbolos básicos que constituem uma nação são a língua, o hino e a moeda. Temos uma língua que ninguém sabe falar, um hino que ninguém sabe cantar e uma moeda que ninguém conhece”.
A ex-ministra comentou que o momento de hoje é semelhante a 88. Segundo ela, a máquina petista tomou conta de tudo, os movimentos espontâneos tendem a ser sufocados, e está acontecendo o genocídio da sociedade brasileira com a cultura dos “coitadinhos”. “Nós criamos, eu, D. Ruth e outras, o PDSB-Mulher em 98, e fizemos uma rede nacional. Não para saber como a mulher pode se empoderar, mas como se empodera uma sociedade para que a mulher possa se sobressair”, afirmou.