Opinião

“Mais cidadania”, por Rejane Xavier

Filosofa e jornalista

REJANE-XAVIER-300x201.jpgQuando pensamos em “cidadania”, é praticamente certo que nos venha à mente a idéia de direitos dos cidadãos. As pessoas querem ser mais ouvidas, mais respeitadas, melhor tratadas, especialmente por parte do governo. Nas escolas, nos hospitais públicos, nas questões de segurança, de transporte coletivo, da atenção aos deficientes e aos idosos, até no comportamento esperado dos políticos, “mais cidadania” nos leva a pensar em mais responsabilidade por parte dos agentes públicos, e mais espaço para a manifestação das reivindicações e das expectativas da população.

Isso não está errado, mas é apenas um dos lados da questão. Se olharmos para a origem da palavra, “cidadania” vem de cidade. Tem a mesma origem de “civilização” e de “civilidade”. Lembra que o ser humano não vive isolado: convive com os outros, precisa dos outros e os outros precisam poder contar com ele, para que o grupo, a “cidade” funcione bem para todos.

Assim, é falta de cidadania, por exemplo, deixar aberta a tampa da garrafa térmica do cafezinho do escritório, depois de se servir. Pois os colegas que chegarem mais tarde vão encontrar o café frio, que vai ser jogado fora, e um novo terá de ser passado, com desperdício de energia e de matéria prima, além de deixar todos de mau humor…

É falta de cidadania deixar água parada no pátio, alimentado mosquitos que vão provocar doenças em toda a vizinhança. É falta de cidadania jogar lixo na rua, que vai entupir as bocas de lobo e contribuir para inundações que levam à perda dos bens e até de vidas alheias.

É falta de cidadania avançar o sinal, bloqueando a passagem do fluxo no cruzamento Como é falta de cidadania pegar aquela fila da direita, no trânsito, que visivelmente vai trancar logo em seguida, e então cortar a frente daqueles que, pacientemente, estão seguindo a fila certa.

É falta de cidadania beber e dirigir; furar filas; colar em provas e concursos; trocar o voto por alguma vantagem pessoal.

Tudo isso parece meio sem pé nem cabeça? O que tem a tampa do cafezinho com a venda do voto? E o que tem tudo isso com cidadania? Pois uma coisa muito simples: são todos exemplos de alguém mais interessado na vantagem pessoal, na solução individual para o seu problema imediato do que nas consequências da sua ação para o grupo de colegas, a vizinhança, a cidade.

Uma curiosidade para concluir. Se cidadania vem de cidade, ela tem a mesma origem de política. Pois política vem de “pólis”, que em grego significa exatamente … cidade. Então, vamos deixar de pensar e de agir como se “política” fosse coisa só dos políticos. Todos nós somos responsáveis pelo tipo de cidade e de política que temos.