Muito se fala, ultimamente, da importância de a mulher sair às ruas, conquistar seu espaço no ambiente de trabalho, impor-se no meio familiar. A mulher moderna é muito mais livre do que já foi um dia. No entanto ainda há espaços quase vedados à entrada da mulher. Muito se diz a respeito da mulher no cenário político, mas poucas vezes ouvimos falar a respeito da importância da presença feminina no Legislativo. Na verdade, o país só vai amadurecer como democracia no dia em que soubermos da importância do voto legislativo. Quando chega a época das eleições, começam os debates acalorados, cada um toma um partido na discussão, mas parece que só existe emoção e envolvimento quando o assunto é a eleição para o cargo executivo. Sobre os candidatos ao Legislativo ninguém fala quase nada, as pessoas só acompanham campanha de deputado, senador, vereador se for pra dar risada dos tipos mais bizarros que aparecem na TV. Depois sobram arrependimento e críticas a um Legislativo mal formado, isso quando nos lembramos do candidato em quem votamos.
Digo tudo isso porque as pessoas não sabem do quanto o país depende de seu corpo de leis para viver. Tudo na vida são leis, e no Brasil, embora não vivamos um parlamentarismo, temos um sistema presidencialista em que quase toda e qualquer decisão do executivo é balizada pela Constituição ou mesmo controlada de frente pelo Congresso. O país é praticamente governado pelo Congresso, e um Congresso mal formado é fadar a nação ao fracasso. E infelizmente temos, nos últimos tempos, passado ao largo dessa percepção e entregue o país a maus gestores, a mãos inábeis.
Mas ainda há tempo para despertar. Se o próprio povo parece, por vezes, dar respostas contundentes a todas as mostras de libertinagem que vêm de um mau Parlamento, a mídia também faz sua parte, ao cobrir impiedosamente todos os indícios de corrupção, e o Judiciário, por sua vez, age também, com um Supremo empenhado em punir corruptos apesar de muitas e muitas brechas da lei, dos infindáveis recursos, embargos, enfim.
Amigas e amigos, o despertar para a importância do sensato voto ao legislativo envolve não apenas questões atinentes à moral, ao caráter dos políticos eleitos. Envolve, além de tudo, que elejamos pessoas que empunhem nossas bandeiras, que defendam nossos lemas. Até hoje me lembro de poucos parlamentares que tenham defendido corajosamente a causa da mulher. Aliás, poucas vezes vemos parlamentares defenderem causas específicas, proporem leis voltadas a certo grupo dentro da sociedade, como a causa dos negros, dos idosos, dos deficientes, enfim. E quando vemos políticos envolvidos com uma causa específica, eles costumam ser bons políticos, bons parlamentares. Não vou dar nomes para que minha opinião não pareça enviesada, mas nos últimos tempos alguns parlamentares foram eleitos para defender uma causa específica e foram felizes no seu propósito, mostra de que no Legislativo não existe só coisa ruim. Vejo alguns políticos defenderem o esporte, atacando de frente os desmandos da CBF e os abusos da Copa do ano que vem. Vejo políticos entrarem em debates acalorados, em Brasília, ao defenderem os homossexuais. E é justamente disso que precisamos: de políticos com uma causa clara. Até hoje quem escreve leis que defendem as minorias costumam ser pessoas que pertencem às maiorias. Quem dirige as grandes revistas
voltadas ao público feminino costumam ser homens. E os homens, no Congresso, costumam discutir leis que versam sobre questões relacionadas à mulher.
É hora de nós, mulheres, tomarmos nosso próprio partido. Ninguém melhor do que a própria mulher para conhecer sua psicologia, seus dramas, as idiossincrasias do espírito feminino, da condição de mãe, da condição de quem, além de ir à rua para lutar pela subsistência, tem que providenciar a proteção dos seus, o bem estar de seu núcleo familiar, pois por mais desprendida que seja a mulher ela nunca tira o olho das questões de seu núcleo familiar: é da natureza da mulher zelar pela proteção dos seus, ao contrário do homem, que em geral se contenta em prover, em buscar o que está lá fora, na rua, deixando a mulher se incumbir dos assuntos familiares.
A família moderna mudou, e essa mudança trouxe em seu bojo uma mudança de paradigma quanto ao papel da mulher na família: de meras protetoras passamos a provedoras também, sem deixarmos de ser protetoras. Parece muita coisa, não é? E é, mesmo, muito! Hoje parece que temos mais funções, em virtude disso, do que os homens! Somos verdadeiras “pães” (pais e mães), e isso, apesar de árduo, é lindo, é a bela figura de guerreiras que hoje nos ilustra. Que essa mudança de paradigmas não fique circunspecta à vida privada, que ela tome a vida pública, possibilitando, principalmente, que elejamos mais membros mulheres para o Legislativo. Precisamos de leis que saiam dessa forma de amor, afeto, carinho e proteção que é o coração feminino. Tais leis serão o mais fidedigno reflexo da mudança de paradigmas vivida pela mulher em sociedade nos últimos tempos. Com isso nosso corpo de leis acompanhará as mudanças que ocorrem na sociedade, como sempre deve ser: as leis como “espelho” de uma determinada sociedade num determinado momento. O Congresso repleto de mulheres, mesmo tendo elas diversas orientações ideológicas, é sinal de avanço em nossa sociedade!
Um grande abraço e boa semana para todas e todos!
Dell Santos
Coordenadora de Eventos do Secretariado Municipal de Mulheres PSDB-SP.