Quis o destino que na passagem do sétimo ano sem Dante de Oliveira, o Brasil viva um clima de intensa mobilização popular, como as que ele comandou, ao lado de figuras emblemáticas, como Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Tancredo Neve, José Richa, Leonel Brizola, Fernando Henrique e o próprio povo brasileiro.
Maior mobilização da História do Brasil, a campanha nacional pelas “Diretas Já!” assolou o país com uma massa que, nas ruas, recuperava o seu orgulho de ser brasileiro, de cantar novamente o hino, sem vergonha e sem medo do regime militar.
De gritar, alto e bom som, “que um homem seu não foge à luta”, como você nunca fugiu da boa luta, da boa causa, como a do sagrado direito de um povo eleger, de maneira livre, direta e soberana, os seus governantes, o presidente da República, como propunha sua emenda.
Dante era um homem do povo, vivia pelo povo e dedicou a sua vida aquilo que ele mais gostava: fazer politica de manhã, de tarde e de noite em prol desse povo – desde a época do movimento estudantil até o Congresso Nacional, onde apresentou na Câmara dos Deputados a emenda constitucional que ganhou o seu nome, a Dante de Oliveira, e levou milhões às ruas.
Tal como em 1984, as cidades brasileiras hoje vivem um fervor cívico, uma indignação patriótica e uma vontade de mudar a realidade política, econômica e social do Brasil, uma “ira santa”, para recordar a música que na época embalou o país na homenagem de Milton Nascimento à figura lendária de Teotônio Vilela.
Quem souber ouvir esse desejo de mudança estará ao lado do povo e da história. Quem fizer ouvido mouco ou tentar enganar os jovens anônimos que ocupam as ruas, desaparecerá, como já aconteceu com partidos políticos do passado.
Ecoam nos meus ouvidos, ainda, os gritos e a revolta do povo brasileiro que, em uníssono, bradava uma palavra de ordem inesquecível, “A luta continua!”, depois do plenário da Câmara dos Deputados derrotar a emenda Dante de Oliveira.
A luta do povo continuou, você continuou a sua luta politica, se tornou ministro da Reforma Agrária, prefeito de Cuiabá e governador do nosso querido Mato Grosso. Não desistiu nunca de ajudar quem mais precisava, os mais carentes, e de acabar com a injustiças sociais no nosso estado.
Não esqueço, também, outra palavra de ordem que saiu das galerias do parlamento brasileiro para ganhar as ruas: “O povo não esquece, acabou o PDS”.
O povo não esqueceu, o PDS acabou.
É a sina de quem não ouve “a voz rouca das ruas”.
Mas você, Dante, ficou.
Ficou em nossas vidas, em nossos corações, na lembrança do povo mato-grossense e na história do Brasil.
Ficou nas ruas, com a juventude inquieta que, nos dias de hoje, quer um Brasil mais digno, mais justo, mais igual, sem corrupção, sem ditaduras de qualquer natureza – política, econômica, social ou comportamental.
Obrigada, Dante, em meu nome e de todo o povo do Mato Grosso e brasileiro, que aprendeu com você e com outros líderes nacionais que é nas ruas que se conquista o novo, que se conquista a liberdade.
Longa vida a Dante de Oliveira e a seu ideal.