Opinião

“Cidades acessíveis”, por Mara Gabrilli

Mara Gabrilli Foto Ag CamaraVocê sabia que, de acordo com estimativas da ONU, em 2015, a região metropolitana de São Paulo, com 20,3 milhões de habitantes, será a quarta aglomeração urbana no mundo?

O dado alarmante perpetua um fenômeno que há tempos o paulistano percebe: o crescimento desenfreado da metrópole e suas áreas de serviços. Hoje, percebe-se que não é mais possível pensar em políticas públicas isoladas. O gerenciamento das cidades tem de trabalhar de maneira integrada. Calçadas, transporte, saúde, trabalho, educação, segurança, cultura, lazer,  todas essas áreas fazem parte de um conglomerado de acessos e serviços da  mobilidade urbana. Ou seja, pensar, por exemplo, em políticas de inclusão para pessoas com deficiência é pensar em um todo, e não apenas em um dos elos dessa cadeia.

Embora a última década represente importantes avanços inclusivos, ainda nos deparamos com atrasos latentes no que diz respeito à acessibilidade no dia a dia de muitos cidadãos com deficiência. O Brasil possui uma das mais completas legislações que preconiza os nossos direitos, mas, ainda assim, tem gente que não pode sair de casa.  O maior obstáculo já começa na porta de casa – na calçada.

Para se ter uma ideia, atualmente, em São Paulo, dos 30 mil quilômetros de calçadas, cerca de 500 estão em boas condições de passeio, ou seja, foram reformados. Essa falta de acesso fere a autonomia das pessoas com deficiência, impede muita gente de sair de casa, utilizar transporte público, freqüentar pontos de lazer da cidade, ir à escola, trabalhar, cuidar da saúde. Ter autonomia. Dignidade.

Em meu portal (www.maragabrilli.com.br) é possível denunciar a qualidade do passeio público por meio dos Guardiões das Calçadas, projeto que cobra da Prefeitura a reforma do passeio e incentiva a população a não só cobrar o Poder Público, mas também a cuidar do própria calçada. No site, há um arquivo com todos os lugares já registrados pela minha equipe e por munícipes que colaboram com o projeto.

Se em São Paulo, a mais importante cidade do Brasil, a pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida ainda passa por dificuldades de acesso – principalmente nas periferias, o que esperar de lugares mais longínquos, em que pouco (ou nada) se investe em calçadas acessíveis ou transporte adaptado?

Quando projetamos cidades para atender, por exemplo, cadeirantes ou cegos, automaticamente estamos preparando os espaços para contemplar também a população idosa.  Pense que um ônibus acessível para obesos será para uma pessoa com mobilidade reduzida. Ou a criança que convive com outra com deficiência será no futuro um adulto mais consciente e saberá não só respeitar, como valorizar a diversidade humana

É este ciclo que hoje faz parte de metrópoles desenvolvidas. O do cidadão com deficiência estimulando o respeito às antigas gerações, sem deixar de se preocupar em atender bem as futuras. Londres, sede dos jogos paraolímpicos, já fulgurava entre uma das cidades mais acessíveis do mundo, hoje, criou um legado de respeito à diversidade humana, que, inevitavelmente, fará parte do olhar e pensamento dos londrinos. E nós também teremos esse desafio a enfrentar.

O Brasil terá de planejar cidades acessíveis para sediar a Copa, as Olimpíadas e as Paraolimpíadas, quando receberá centenas de turistas e atletas com deficiência. Será a nossa chance de criar nosso legado de respeito e cidadania.

A diferença entre uma nação desenvolvida está exatamente neste olhar. Olhe para as pessoas, para nossas cidades e pense em como integrá-las. Os resultados também afetarão você, tornando–o um cidadão muito mais consciente e humano.

*Deputada federal (PSDB-SP)