Artigo da deputada federal Mara Gabrilli (PSDB-SP)
Já imaginou como um garoto que nasce com paralisia cerebral, com comprometimento na fala e em seus movimentos, morador de uma favela repleta de morros, esgoto a céu aberto, sem rua asfaltada ou ponto de ônibus próximo, dono de uma deficiência física, que na teoria não o limitaria de fazer nada, não estará sucumbido a passar horas olhando para o teto do quarto onde passa grande parte do tempo deitado?
Agora, pense em uma criança nascida com uma deficiência intelectual e moradora de uma pequena cidade do interior nordestino. De família simples e sem grandes recursos, dificilmente essa pequena frequentará uma escola, tampouco será tratada como uma aluna com capacidade de desenvolver suas potencialidades. Raramente terá acesso a uma terapia ocupacional e não será chamada de nomes como retardada ou mongolóide.
Pode parecer paradoxal, mas casos assim ainda ocorrem em uma das maiores economias do mundo, como o Brasil.
Segundo a ONU, quanto mais recursos e tecnologias uma nação oferece, menos deficiência existirá em sua população. Para se ter uma ideia, em países com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alto, o número de pessoas com deficiência chega a apenas 1%. Hoje, o Brasil tem mais de 23%. Prova de que crescer economicamente não basta para atender de maneira digna as pessoas.
Segundo dados da prefeitura de São Paulo, cerca de 2 milhões de paulistanos vivem abaixo da linha de pobreza. Conforme dados da ONU, a estimativa é que cerca de 10% desta população sejam de pessoas com deficiência. O Banco Mundial revela que a pobreza e seus fatores são um dos causadores de grande parte das deficiências no mundo. A prova disso está nos países em desenvolvimento, onde 80% das pessoas com deficiência vivem em situação de vulnerabilidade social.
A falta de saneamento básico, atendimento de saúde adequado, pouco acesso à informação e outros problemas decorrentes da pobreza acarretam um maior percentual de deficiência na população. Atualmente, estima-se que 90% dos casos de deficiência visual estejam concentrados em nações em desenvolvimento e a maior parte poderia ser evitada. O glaucoma e a catarata são as principais causas de cegueira na população brasileira adulta. Já na infância, estes problemas são decorrentes de baixa nutrição e infecções.
Este elevado número de pessoas com deficiência, que não é alvo de nenhum tipo de política pública, sofre também do abandono e exclusão social, muitas vezes por falta de conhecimento de familiares e vizinhos. Muitos dos movimentos populares que operam no interior destas comunidades carentes encontram enormes dificuldades para atuar com foco nessa população. Isso ocorre devido ao desconhecimento e preconceito, muitas vezes da própria comunidade local.
O Brasil está crescendo e tomando recortes de potência mundial. Mas, quando pensamos no desenvolvimento humano, ainda estamos atrasados. Enquanto existirem pessoas que não podem sair de suas casas para estudar, ter acesso à saúde ou mesmo trabalhar, não podemos nos chamar de potencia mundial. Ninguém conhece o mundo sem antes sair do próprio quintal.