Opinião

“Tecnologias, marcas e política”, por Yeda Crusius

Nossas escolhas — da política ao consumo — são feitas de símbolos que nos ligam emocionalmente a quem ou a que escolhemos, de produtos a votos. Marcas são importantes para o sucesso político ou o lucro empresarial. São premiadas aquelas com os produtos mais lembrados pelo consumidor. O voto se decide por líderes e partidos que fizeram nossa história. Produtos e partidos estão mudando de nome, e isso tem duas razões: estão desacreditados, porque são vinculados a coisas ruins e ficaram obsoletos, precisando se adaptar a uma nova realidade.

A pandemia transformou o planeta, com mudanças como trabalhar em casa, ensinar e aprender à distância, assistir à missa online, ver cancelados campeonatos e shows. O sistema de saúde foi alterado, com milhares de médicos e enfermeiros morrendo junto com seus doentes. Milhões ficaram desempregados. As pessoas ficaram isoladas, separadas de suas famílias, impedidas de viajar. São novos hábitos. Pela tecnologia digital, as pessoas fizeram de seus celulares o meio de ligação com o mundo.

A tecnologia permite incluir, como na crise da pandemia, mas mostra um outro lado. As mídias sociais, como Twitter e Facebook, podem ser usadas para maldade e golpes. Por elas, manifesta-se a divisão ideológica das sociedades entre o “eu” e “eles”. Há a concentração do poder e da riqueza nas mãos de seus donos. Devemos enfrentar as consequências negativas dessa realidade.

O dono do Facebook, Mark Zuckerberg, trocou para Meta o nome de sua empresa, que detém o Instagram, WhatsApp e outras ferramentas concentradas numa só. Vem de metaverso, nome que identifica a vida em um mundo paralelo, o real e o artificial. Máquinas interagem com as pessoas e realizam funções que antes dependiam das decisões livres dessas pessoas para acontecer. É a inteligência artificial.

Em parte, fez isso para mudar a marca e escapar da avalanche de críticas e processos que sofre. Suas empresas viraram fábricas de fofocas, de apropriação de dados pessoais para fins comerciais, de manipulação de votos. O Senado americano investiga essas companhias, assim como o nosso investiga possíveis desmandos ligados ao uso de remédios na pandemia. Concluídas as investigações, as organizações e as pessoas serão julgadas.

O uso da tecnologia tem gerado uma cultura de exclusão pelo cancelamento e de desconfiança pelas fake news, requerendo mediação política praticada com liberdade e democracia. Passamos por um teste de adaptação ao novo ciclo das mídias sociais, que afeta as relações humanas, as do mundo do trabalho, as da relação entre governante e governado. Então, não vamos nos dispersar. “É a política, estúpido”, parafraseando o marqueteiro com que Clinton se elegeu com o “é a economia, estúpido”. A pandemia vai passar.

*Yeda Crusius, presidente nacional do PSDB-Mulher, foi ministra de Planejamento, governadora do Rio Grande do Sul e deputada federal