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Fundação Konrad Adenauer e PSDB-Mulher trocam avaliações sobre guinada à direita no cenário político nacional e mundial

Foto Divulgação

O avanço da extrema direita nas principais democracias do mundo foi um dos temas discutidos na última quarta-feira (16) entre o representante da Fundação Konrad Adenauer no Brasil (KAS), Jan Wolshnik, e a presidente do PSDB-Mulher e candidata à presidência nacional do partido, Yeda Crusius. Jan Wolshinik presenteou Yeda com duas publicações patrocinadas pela KAS: um livro sobre os 30 anos da Constituição brasileira e outro sobre evento promovido pela fundação alemã em Petrópolis (RJ) em novembro de 2017, que traz depoimento do presidente do Parlamento Federal Alemão e vice-presidente da Fundação Konrad Adenauer, Dr. Norbert Lammert, que faz parte da União Democrata-Cristã (CDU).

O depoimento da Lammert, feito três dias depois de a extrema direita ter conquistado quase 13% das vagas no Parlamento alemão, expõe a preocupação do vice-presidente da KAS com o crescimento da extrema direita no mundo. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, nenhum partido de extrema direita havia participado da vida parlamentar alemã, cujo passado nazista tornava inimaginável um resultado como este.

O representante da KAS no Brasil confirmou, durante encontro com a presidente do PSDB-Mulher, que um dos objetivos da visita que o secretário-geral da fundação alemã, Gerhard Whalers, em março próximo será fazer uma avaliação própria sobre os rumos do governo Bolsonaro, visto atualmente de maneira bastante negativa na Europa e em especial na Alemanha. “Nosso secretário-geral quer tirar suas próprias conclusões ao conhecer de perto a realidade brasileira”, confirmou Jan Wolshinik.

Em seu depoimento, Lammert previu a guinada à direita que estava acontecendo em nível mundial e cita em diversos momentos observações do escritor, romancista e biógrafo austríaco de origem judaica, Stefan Zweig, que suicidou-se durante seu exílio no Brasil, deprimido com a expansão da barbárie nazista pela Europa, durante a Segunda Guerra Mundial.

Na opinião de Lammert, existem no mínimo dois pontos nos quais a obra de Stefan Zweig conservou relevância, principalmente para os debates públicos dos nossos dias. “De um lado, o seu diagnóstico muito clarividente dos anos de 1930 e do início dos anos 1940 de que o maior mal da época era o nacionalismo (…) do outro, a sua eterna bandeira por um processo de unificação da Europa, pela União Europeia. Ambas não perderam nada em atualidade, até mesmo no processo de unificação da Europa que está acontecendo agora”, disse em seu depoimento.

O presidente do Parlamento Federal Alemão admitiu que nem ele próprio acreditaria no retorno da extrema direita ao comando da democracia germânica. “Justamente aqueles países impedidos durante décadas de participar deste processo de unificação europeia, por causa da Guerra Fria e da dominação soviética na Europa do Leste, poderiam recair em mentalidades nacionalistas que já se supunham muito superadas”, completou.
Lammert alerta que o quando Donald Trump resume seu programa de governo no lema “America First” fica claro que o problema no nacionalismo não é europeu ou americano e sim mundial. “Em um tempo em que cresce a consciência de que os problemas relevantes são todos complexos e globais, aumenta no mundo inteiro a tendência de dar respostas simples e de cunho nacional a estas questões complexas e globais”, reiterou.

A conclusão de Lammert é que apesar do momento difícil em que o planeta passa, Stefan Zweig tinha razão em defender uma postura positiva e otimista diante das adversidades. Para ele, a esperança de dias melhores e a confiança no espírito de humanidade são as chaves para vencer esta etapa da história. “Apenas se lembrarmos disso podemos nos consolar diante da tolice das nações e dos ditadores que tentam jogar os povos uns contra os outros e que tentam obter retrocessos no plano político quando o progresso não pode ser detido (…) isso significa que se estivermos interessados em condições que consideramos avançadas precisamos nós mesmos criá-las”, disse.

30 anos da Constituição

A segunda publicação entregue por Jan à Yeda foi um livro patrocinado pela Fundação Konrad Adenauer sobre os 30 anos da Constituição Federal brasileira de 1988, completados no ano passado. Intitulada “A Constituição de 88 trinta anos depois”, a obra faz uma reflexão sobre o texto constitucional, suas mutações e de como a produção acadêmica sobre a Ciência Política pode se aproximar do cotidiano e contribuir para a compreensão do contexto atual.

Em agradecimento, Yeda também presenteou o representante da KAS com uma publicação sobre detalhes da trajetória política da tucana durante os 30 anos em que esteve atuando no Poder público brasileiro, também completados em 2018.

“O fim de um ciclo cria as condições e o espaço do próximo. Meu ciclo na política começou há 30 anos, quando outro – o de comunicadora, consultora de Economia, e de acadêmica da UFRGS – se deparava com o novo dos anos 90”, afirmou Yeda Crusius na apresentação do livro.

A tucana faz uma retrospectiva ao longo dos capítulos sobre os desafios enfrentados por ela na época da Assembleia Constituinte em 1988, durante o Plebiscito do Parlamentarismo e o governo de Itamar Franco em 1993, o Plano Real em 1994 e a primeira eleição para a Câmara dos Deputados, entre outros temas.

Reportagem Tainã Gomes de Matos